INEM detetou falhas nos tempos de resposta em 72% das fiscalizações feitas a estes dispositivos que salvam vidas.
Corpo do artigo
A maioria dos desfibrilhadores automáticos externos (DAE) instalados em cabinas na rua chumbaram nas fiscalizações realizadas pelo INEM, entre 2019 e 2021. Em causa estão os elevados tempos de resposta das pessoas que foram formadas para usar os respetivos dispositivos em vítimas de paragem cardiorrespiratória. Atualmente há 40 DAE licenciados para a via pública com confirmação de cumprimento dos requisitos, assegura o INEM.
Em 2019, 2020 e 2021, o INEM realizou 18 fiscalizações a DAE licenciados para funcionarem na via pública. Em 13 dessas situações (72%) foram "detetadas irregularidades, nomeadamente tempos de resposta elevados", refere o instituto em resposta ao JN.
Na prática, significa que, quando o INEM foi ao local simular uma situação de emergência e pediu o acionamento dos operadores, estes chegaram demasiado tarde ou nem sequer apareceram. "No seguimento destas fiscalizações, foram realizadas ações de sensibilização junto das entidades responsáveis para cumprimento dos tempos recomendados", explica o INEM.
Nas fiscalizações prévias ao licenciamento, a taxa de reprovações é ainda maior, também por atrasos. Das 13 ações realizadas em 2021 e 2022, só dois programas cumpriram todos os requisitos e foram licenciados. "Em 84% dos casos o licenciamento não foi aprovado", esclarece o instituto.
Refira-se que, no caso dos DAE da via pública, as entidades responsáveis são os municípios, que contratualizam os programas com empresas acreditadas pelo INEM para darem formação e implementarem os desfibrilhadores. Além da formação, estas empresas fazem a gestão dos operadores, contactando por telemóvel os que se encontram mais próximos, em caso de ativação da cabina.
No total, estão formadas 519 pessoas para programas DAE licenciados para a via pública, indica o INEM, sendo que "a larga maioria são voluntários que, de acordo com os responsáveis dos programas e verificado nas ações de fiscalização, trabalham ou habitam perto das cabinas". Em algumas situações, adianta o instituto, são elementos da PSP, GNR e/ou bombeiros locais.
Diferentes dos DAE dos espaços públicos - como os aeroportos, shoppings ou outros -, onde as pessoas formadas para os usar trabalham no local, nos desfibrilhadores instalados na via pública há a contingência de poder não estar ninguém formado por perto. O que remete para a necessidade de aumentar a formação da sociedade em suporte básico de vida e uso de DAE. "Já estivemos pior, mas estamos longe de onde devíamos estar. Há pouca formação. Se houvesse mais, a probabilidade de estar alguém perto de um DAE destes era muito maior", nota Rui Lázaro, presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-hospitalar.
Desde 2019, os dispositivos foram usados duas vezes, uma em 2020 e outra no ano passado, informou o INEM.
Saber mais
40 desfibrilhadores automáticos externos (DAE) estão atualmente licenciados para a via pública, com confirmação de cumprimento dos requisitos, garante o INEM em resposta ao JN.
Para que servem
Criados para serem usados por leigos, os DAE permitem reverter uma paragem cardiorrespiratória, com alta taxa de sucesso se usados nos primeiros minutos.
Formação de sete horas
Através de elétrodos colocados sobre o tórax da vítima, o DAE identifica o ritmo cardíaco e, em caso de fibrilhação, aplica um choque elétrico. Os riscos são baixos, mas para usar um DAE é preciso formação com sete horas de duração.
Pormenores
Municípios com DAE
Já há vários municípios com DAE na via pública. Segundo o INEM, estão nos concelhos de Lisboa, Beja, Moura, Albufeira, Ansião, Portimão e Vila do Bispo.
INEM fiscaliza
O INEM fiscaliza os equipamentos antes e depois de licenciados.
Ato médico delegado
A desfibrilhação automática é um ato médico delegado, que tem de ser enquadrado num programa licenciado pelo INEM. É obrigatório ter um responsável médico e um número adequado de pessoas com formação em Suporte Básico de Vida/ /DAE a quem o médico delega o ato médico.