Sorridente e bem-disposta, Marta Temido viajou ao Minho com o objetivo de mostrar que a Europa "não é um sítio distante". Em Viana do Castelo, a cabeça de lista do PS às europeias entrou nas lojas e cafés do centro histórico para convencer o eleitorado e foi recebida com mimo, presentes e uma desgarrada motivadora.
Corpo do artigo
Sentado no selim da bicicleta, Joaquim Nogueira observa o aparato que se forma junto ao Gil Eannes, navio-hospital transformado num museu que exala a memória de Viana do Castelo e homenageia a comunidade piscatória. Sob um sol quente, invulgar naquela cidade de mar, jovens socialistas equipam-se com t-shirts azuis e bandeiras do partido e da União Europeia, antevendo a jornada de campanha. “Vem aí aquela senhora do covid, não é?”, questiona o vianense de 66 anos, natural da Ribeira de Viana do Castelo.
O palpite estava certo. Sem atrasos, a candidata do PS às eleições europeias - e que ficará para sempre conhecida por ter assumido a pasta da Saúde durante a pandemia - chega sorridente, de fato azul e blusa colorida, sem a habitual mochila cinzenta que a tem acompanhado na campanha. Distribui beijos e abraços pelos autarcas, ex-autarcas e deputados que rumaram a Viana, qual romaria minhota para apoiar Marta Temido.
O abraço mais demorado é com Tiago Brandão Rodrigues, ex-ministro da Educação, antigo colega de Governo que é “como um irmão mais novo”. Depois de, na segunda-feira, ter terminado o dia em Santarém, Marta Temido fez 300 quilómetros e dedicou, esta terça-feira, o dia ao Minho para mostrar que a Europa “não é um sítio distante”.
Capaz de "pegar no leme"
Guiada por Leonor Cruz, responsável pelo Centro de Mar de Viana do Castelo, um espaço interpretativo dedicado à ligação oceânica da cidade e financiado por fundos europeus, a socialista salientou a importância do mar para a transição energética e ficou a conhecer a tradição dos tapetes coloridos, feitos com sal, das festas da Senhora d’Agonia. Após uma rápida visita pelo convés do Gil Eannes, onde está instalado o centro, Temido posou junto ao leme e aproveitou o simbolismo: “Estamos perfeitamente capazes e empenhados em pegar no leme para andar para a frente. O leme que eu escolheria é aquele que nos leve rumo ao futuro”.
Com uma comitiva composta, sobretudo, pelos pesos-pesados minhotos e por uma dezena de jovens socialistas, a caravana seguiu pelo centro histórico para distribuir sorrisos e panfletos para convencer o eleitorado. “Viva a Marta Temido! Viva o PS! Viva a Europa!”, ecoavam os apoiantes pelas ruas despidas, numa tentativa de chamar o povo.
A ausência de gente obrigou a candidata a pôr mãos à obra, entrando em todos os comércios na esperança de falar com os vianenses. Entre padarias e lojas de ferragens, barbearias e cafés, é na Casa Sandra que recebe a maior festa. “Ai minha querida! É completamente diferente vê-la na TV. Que idade é que tem?”, questiona a proprietária da loja de bordados, divertida.
Com um lenço minhoto na mão, insiste em encher a socialista de prendas. “Não posso aceitar, dona Conceição. Mas a gente volta em breve”, assegura Temido, enquanto recebe um beijo sonoro da mulher. “Ai, tem um cheirinho tão bom! Que corra tudo bem, muita sorte e coragem”, despede-se Conceição, com ternura. "A senhora merece. Eu sou PS de coração e até sou um bocadinho da política, vou sempre para as arruadas".
Com o Governo na mira
Mais à frente, é surpreendida por João Cruz, o Pi d’Areosa da dupla "Sons do Minho". Desafiado pelo presidente da junta, o artista canta à desgarrada para apoiar a candidata. “Não a conhecia, mas achei-a acessível e popular no bom sentido e acho que isto são dois pontos fundamentais para liderar um país e um povo que se quer satisfeito, realizado e, acima de tudo, compreendido”, descreve o artista ao JN.
Apesar da pouca gente, Marta Temido recebeu mimo de quase todos aqueles com quem se cruzou e não se cansou de invadir, sorridente, o comércio local. "Portugal unido, vota Marta Temido!", continuou a comitiva pela rua fora. As palavras de ordem chamaram a atenção de duas senhoras de vestido florido que conversavam junto ao edifício da Câmara Municipal. "Olha, a menina antiga ministra da Saúde", atirou uma delas. "Queria agradecer-lhe muito o que fez na pandemia. Foi uma grande mulher. Uma pequena grande mulher", considerou a outra.
Insistindo que está "mesmo muito em causa no domingo", a cabeça de lista do PS acusou Sebastião Bugalho de só se preocupar com temas nacionais, mas também não passou ao lado da atuação do Governo. Na reta final da campanha para as eleições de 9 de junho, a socialista afirmou que "obviamente" o timing para a apresentação do plano de imigração não foi inocente e acusou a Aliança Democrática de tomar decisões eleitoralistas, com o risco de "desbaratar" o legado "das contas certas".
"Insisto, quando nós nos preocupamos em fazer avançar o país, melhorando as condições de vida dos portugueses e ao mesmo tempo manter contas certas, não foi para que se corresse o risco de se desbaratar esse legado. Quando nós nos preocupamos em alertar que há escolhas, quando são feitas por razões eleitoralistas, sem apresentar contas, sem apresentar soluções concretas, apenas atirando um manto de medidas para cima de tudo, provavelmente também não estamos a querer resolver nada, estamos apenas a querer distrair as atenções", afirmou.