O mês de dezembro registou em Portugal as temperaturas mínimas e máximas mais elevadas desde 1931, passando a ser o dezembro mais quente em 92 anos. Também a precipitação registou valores acima da média para dezembro, com um total de 250.4 mm/mês. Este valor é 174% acima do considerado normal e é o mais elevado desde o ano 2000, o que permitiu quase acabar com a situação de seca no país. Ricardo de Deus, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), afirma ao JN que, ao contrário do aumento da temperatura, a quantidade de precipitação acima da média não era expectável.
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"Extremamente quente" e "muito chuvoso". É assim que o IPMA classifica o mês de dezembro relativamente à temperatura e à precipitação, segundo o relatório a que o Jornal de Notícias teve acesso e que será divulgado publicamente durante o dia de hoje.
Dezembro teve um valor de temperatura média situado nos 12,72°C, o que significa que "foi 2,76°C acima do valor normal". A temperatura mínima de dezembro apresentou um valor médio de 9,58°C, o segundo mais alto desde 1931. Desde esse ano foi também em 2022 que o mês de dezembro apresentou, pela segunda vez, a temperatura máxima com um valor médio superior (15,87°C).
O relatório faz notar os valores elevados de temperatura mínima como tendo estado quase "sempre acima do valor normal, sendo inferior apenas nos primeiros quatro dias do ano". O dia 13 de dezembro é sublinhado como recorde pelo IPMA, já que "foram ultrapassados os anteriores valores da temperatura mínima mais elevados em cerca de 60% das estações da rede".
Relativamente à temperatura, Ricardo de Deus lembra que ter um mês de dezembro quente "é já uma tendência", se tivermos em conta a evolução da temperatura média deste mês nos últimos 100 anos. "Em setembro já tínhamos ideia que a temperatura do mês de dezembro ia ser mais elevada do que o normal." Em concreto, 2,76ºC mais elevada do que a média.
Eventos extremos
Já no caso da precipitação, o fenómeno registado no mês de dezembro "não era expectável", classifica o profissional do IPMA. "Se olharmos para a tendência dos últimos anos é normal termos um mês de dezembro com precipitação abaixo da média - e não acima, como aconteceu."
Segundo o relatório do IPMA, valores superiores à quantidade de precipitação do passado mês de dezembro só ocorrem em 10% dos anos desde 1931. E este foi o mês mais chuvoso desde 2000, ano em que foram registados 311,5mm de precipitação mensal.
Ricardo de Deus explica que a média de precipitação elevada é explicada por fenómenos extremos, que são "cada vez mais comuns". Ou seja, não existe uma precipitação elevada prolongada por todo o último mês do ano, mas uma concentração de eventos extremamente chuvosos em poucos dias. No caso de dezembro, 7, 8, 12 e 13 foram os dias com maior ocorrência de precipitação, nos quais, em média, choveu quase metade do total do mês. "É provável que eventos extremos como estes se venham a repetir nos próximos anos."