Dezenas de estudantes concentraram-se ao início da tarde desta sexta-feira à frente da Escola Secundária Marquês de Pombal, em Lisboa, exigindo financiamento para o ensino artístico e o fim das obras na Escola Artística de Música do Conservatório Nacional (EAMCN) que decorrem há mais de cinco anos.
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Por volta das 13.15 horas chegavam dezenas de estudantes do básico e secundário à Rua Alexandre de Sá Pinto, apoiados por alguns professores e encarregados de educação, pela "cadência do conservatório e uma escola digna", num protesto organizado pelo movimento "Voz aos Estudantes".
"Promessa não! Obras sim!", "Mais, mais, mais condições materiais" ou "É urgente, é urgente condições para toda a gente" foram algumas das palavras de ordem que começaram por gritar em uníssono, erguendo faixas que denunciavam a falta de condições sanitárias, de salas de aulas e de uma sala de convívio.
"Queremos sentir-nos músicos e artistas quando entramos numa sala que nos respeite como tal", disse, ao microfone, Leonor Pereira de 18 anos, aluna de canto no conservatório na rua dos Caetanos, no Bairro Alto, e que há mais de um ano passou a ter aulas nesta escola secundária devido às obras. Além de se manifestarem insatisfeitos com a demora, exigiam também mais funcionários, professores e psicólogos na escola.
Ao JN, a jovem apontou que "as obras estão paradas" e faltam "condições sanitárias e de dignidade" quer para os estudantes quer para os artistas do conservatório. Os alunos de música continuam sem ter um auditório para ensaiar, denunciou. Por isso, prometem levar as queixas até à Câmara Municipal de Lisboa, mas por agora já fazem circular "um baixo assinado para que as reivindicações sejam compreendidas na Assembleia da República", avançou Leonor Pereira.
A falta de um auditório faz-se sentir ainda nas alturas em que organizam concertos e têm de alugar outras salas de espetáculo. "Muitas vezes os pais têm de suportar custos associados ao transporte, o que não é compreensível num ensino que é público e democrático", contou Leonor Pereira.
Alunos de música não têm um espaço para ensaiar
Desde 2018, quando foram iniciadas as obras, a área no Marquês de Pombal teve de receber mais de 300 alunos do ensino articulado. O que foi prometido como uma mudança provisória de 18 meses prolongou-se durante cinco anos letivos.
Maria Alves tem 17 anos e estuda canto. Decidiu-se juntar ao protesto porque não vê essas promessas a serem cumpridas. "Esta escola não tem as devidas condições para o nosso ensino. Há colegas meus instrumentistas, por exemplo cinco violonistas, mais um contrabaixista mais um violoncelista a tocar na mesma sala. Não temos condições suficientes para ensaiar, nem que nos ajudem a nos especializarmos na área de que gostamos", lamentou a jovem.
João Ferreira esteve no protesto a apoiar os estudantes relembrando que o PCP apresentou na quarta-feira uma moção pela dignificação da EAMCN, aprovada pela Câmara Municipal de Lisboa que é responsável pela instituição desde setembro de 2020. "Em 2018-2019 vocês ouviram falar da mudança para aqui com a promessa de que era um ano e meio. Agora estamos aqui com a perspetiva de continuar ainda mais alguns anos com estas condições: a falta de salas, a falta de meios materiais e humanos, o ter de ver se o dinheiro vai para o desumidificador se vai para o aquecimento, se vai para os instrumentos musicais ou para as manutenções", apontou o vereador comunista na autarquia, mostrando-se solidário com a causa.
Os cursos artísticos especializados, nas artes visuais e audiovisuais, dança e música, destinam-se a alunos do básico e do secundário que pretendam enveredar numa profissão em alguma área artística ou prosseguir estudos no ensino superior artístico.