Dezenas de professores concentraram-se à porta do Liceu Alexandre Herculano, no Porto, reivindicando a “demissão” do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro da Educação, João Costa. Exigem respostas do Governo. O ministro diz que é preciso "esperar".
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Sabendo da visita do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro da Educação, João Costa, ao Porto, dezenas de professores da zona Norte decidiram aproveitar a oportunidade e marcar também um protesto, erguendo as caricaturas dos governantes com lápis espetados nos olhos e exigindo a demissão de ambos. Este terá sido só mais um exemplo do que acontecerá nos próximos dias, estando já marcada uma greve para a próxima semana.
A PSP estabeleceu um perímetro de segurança na Avenida de Camilo, no Porto, afastando os docentes da entrada do liceu. Tanto que, à chegada do primeiro-ministro e de João Costa, ambos os governantes evitaram o confronto com os manifestantes. Entraram imediatamente na escola, ignorando as palavras de ordem que ecoavam: “Vocês são uma vergonha” ou “Governo a culpa tua, a escola está na rua”. Para o ministro da Educação, João Costa, que prestou declarações aos jornalistas no final da visita, essa “é uma imagem que todos conhecemos daquela ansiedade do regresso à escola” e será preciso “tempo” para resolver estes problemas “muito antigos”.
Discurso do ministro "é bacoco", dizem professores
André Pestana, líder do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P.), esteve também a apoiar a luta dos docentes, apesar de a manifestação não ter sido convocada por aquele sindicato.
“Somos um movimento de professores do Norte e convocámos esta manifestação para dizer que os professores não vão parar enquanto não forem ouvidos”, afirmou, em declarações ao JN, Vladimiro Campos, professor no Agrupamento de Escolas do Cerco do Porto. O docente, que conta 23 anos de trabalho, explica que quando “os sindicatos vão às mesas negociais não têm uma conversa ou um diálogo”. “Este Governo não tem bom senso com os professores. Este ministro [em entrevista, esta terça-feira, à RTP] não disse uma medida para melhorar o ensino dos nossos filhos”, revolta-se Vladimiro, salientando que o percurso de João Costa no Governo conta já com seis anos, tendo começado como secretário de Estado da Educação.
Quanto às negociações até agora debatidas entre o Ministério da Educação e os sindicatos, o docente sublinha a falta de “abertura” do Governo. “Não há abertura. Ele [o ministro] diz que sim. É mentira. O discurso dele é bacoco. Somos do Porto, temos de falar a verdade. Ele vem com uma retórica, de que faz e acontece. Mas, na prática, não há nada”. João Costa rejeita essa acusação, dizendo que “foram dados muitos passos ao longo deste ano”. Ainda assim, admite que existem “várias matérias para trabalhar com as organizações sindicais, com os representantes dos professores, como a desburocratização do sistema”.
À medida que ecoa, pela Avenida, a palavra “demissão”, Vladimiro justifica: “Estamos a pedir a demissão porque um Governo que não ouve os professores não é um Governo que tem futuro, nem a sociedade pode ter futuro sem uma educação”.
André Pestana, questionado pelo JN sobre o que ainda falta fazer para que seja possível chegar a um entendimento com o Governo, responde que: “[O ministro] não tem nenhuma proposta de solução. Temos mais de 100 mil alunos neste momento sem professor a uma ou mais disciplinas. Nunca tinha acontecido um número tão expressivo”.
“Há outros milhares de alunos que irão receber aulas de profissionais sem as valências pedagógicas e profissionais para ser professor. E há vários problemas. Não é só a questão da contagem de tempo de serviço. Há outras passagens na carreira também injustas: carreiras e salários de miséria para os assistentes operacionais, para os assistentes técnicos, para os técnicos de educação, técnicos especializados”, enumera o líder do S.TO.P., apelando à participação dos docentes na greve de 18 a 22 de setembro.
Ministro diz que é preciso "saber esperar"
Num discurso no final da visita, o ministro da Educação, João Costa, utilizou os quatro anos de empreitada de requalificação da Escola Secundária Alexandre Herculano como metáfora para dizer, em alusão à reivindicação dos professores, que “temos de ter paciência, de saber esperar”. “Qualquer ilusão de que se estala o dedo e os problemas estão todos resolvidos, não passa disso. É mesmo uma ilusão”, reforçou.
Quanto aos números avançados pela Federação Nacional dos Professores, que deu conta de 100 mil alunos sem professor, João Costa considera-os “absolutamente especulativos”, repetindo que “entre sexta-feira e terça-feira", o Ministério da Educação teve a capacidade de resolver mil horários que estavam sem professor”. “Esta máquina funciona”, insiste.
Liceu terá novo campo desportivo
A obra de requalificação da Escola Secundária Alexandre Herculano entrará agora numa segunda fase, avançou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira. Representa um investimento de 1,8 milhões de euros e prevê “a construção de um campo desportivo coberto e o arranjo das áreas exteriores da escola”.
Quanto à descentralização na área da Educação, que deu origem a uma parceria entre o Estado e a Câmara do Porto e permitiu avançar com as obras no liceu que recebe atividades letivas há cerca de 100 anos, o autarca considera que “não é só possível como desejável”. Aliás, para o primeiro-ministro António Costa, este é, precisamente, um “símbolo de cooperação do processo de descentralização”.