DGS estuda seguir exemplo de França para generalizar máscara nas ruas. Marcelo apela a "junção de esforços".
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Dentro de duas semanas, todo o país volta à situação de contingência, o segundo nível mais restritivo no âmbito da lei da Proteção Civil, devido ao regresso às aulas, à afluência aos transportes públicos e ao fim do teletrabalho.
É uma bomba-relógio que levou o Governo a assumir, esta quinta-feira, que "não pode ficar indiferente", quando um pouco por toda a Europa os casos disparam. A generalização do uso das máscaras no espaço público pode ser uma das medidas da estratégia que está a ser delineada pelas autoridades de saúde para vigorar a partir de 15 de setembro.
Não será um passo atrás na guerra à pandemia, como admitiu fazer António Costa durante os estados de emergência, mas antes reforçar a tática para enfrentar "o outono e inverno" e "preparar a reação ao aparecimento de casos" numa segunda vaga, explicou, esta quinta-feira, a ministra da Presidência.
Mariana Vieira da Silva disse que o que "temos visto um pouco por toda a Europa é um aumento dos números nos últimos dias e o Governo não pode naturalmente ficar indiferente". Esta quinta-feira, houve 399 novas infeções em Portugal (o número mais alto desde 10 de julho), França registou mais de 6000 novos casos, Espanha quase 10 mil e o Reino Unido atingiu o valor mais alto desde 12 de junho (1522 infetados).
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Apesar de salientar que nas últimas semanas os casos têm diminuído, Mariana Vieira da Silva aludiu "aos números do último dia e aquilo que sabemos dos números de hoje [quinta-feira], mostram um aumento". A esse crescimento junta-se a "mudança significativa das rotinas, na utilização de transportes, regresso às aulas e o regresso ao local de trabalho".
"Acontece que, a partir de 15 de setembro, se verificará um conjunto de alterações muito significativas relativamente aos meses que temos vivido e importa desde já antecipar e preparar", adiantou a ministra, após o Conselho de Ministros que manteve, por mais duas semanas, o país em estado de alerta e a Área Metropolitana de Lisboa em contingência.
"Agravar disciplina"
Uma das medidas em estudo pela Direção-Geral da Saúde (DGS), apurou o JN, é a de pôr Portugal a seguir o exemplo de países como a França, onde a máscara passou a ser obrigatória no espaço público e em qualquer contexto. Proibir ajuntamentos com mais de dez pessoas pode ser outra delas.
O epidemiologista Manuel Carmo Gomes, um dos especialistas ouvidos nas reuniões do Infarmed [ler ao lado] explicou, ao JN, que, não sendo "o maior defensor" do uso da máscara no molde aplicado em França, "esta pode ser uma boa estratégia perante o contexto explicado pelo Governo". "Se a alunos fechados na sala de aulas e mais gente nos locais de trabalho e nos transportes juntarmos alguém infetado, bastam 15 minutos de contacto para que o vírus seja inalado. A máscara pode então ser uma das medidas a adotar", disse.
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Marcelo Rebelo de Sousa - que, desde há três semanas, mesmo nas idas à praia, tem usado constantemente máscara - disse que o Governo já lhe transmitiu que vai "agravar um pouco o regime da disciplina sanitária em todo o território nacional".
Na inauguração da Feira do Livro de Lisboa, o presidente da República disse que não é um momento para crispações, como a que ocorreu esta semana entre o Governo e a Ordem dos Médicos e apelou a uma "junção de esforços". "Os portugueses não perdoariam se estivéssemos de costas voltadas uns para os outros", disse.