Os recuperados de covid-19 que queiram viajar para o estrangeiro já podem tomar a segunda dose da vacina, determinou a DGS. A decisão, tomada após o JN ter noticiado casos de pessoas a quem a antiga norma estava a causar transtornos, visa "facilitar a vida" a quem planeie entrar em países que exigem duas tomas do fármaco.
Corpo do artigo
A Direção-Geral da Saúde (DGS) reviu a norma de vacinação 002/2021 na sexta-feira, alargando a possibilidade de administração da segunda dose a todos os recuperados que queiram viajar para países onde exista a exigência das duas doses.
14222227
Até agora, essa possibilidade estava apenas prevista para pessoas que tinham de viajar em trabalho, estudo, missão diplomática e por necessidade de cuidados de saúde no estrangeiro.
Ao JN, fonte da DGS justificou a alteração com a necessidade de "dar conveniência" aos cidadãos recuperados, contando que existam doses disponíveis para tal. Para conseguirem a segunda toma, as pessoas nesta situação terão apenas de dirigir-se a um centro de vacinação ou centro de saúde e expor a sua situação.
Questionada sobre se as pessoas em causa terão de fazer prova de que irão viajar em breve (nomeadamente através da apresentação do bilhete de avião), a mesma fonte recomendou que sim, mas esclareceu que essa situação "ultrapassa" a DGS e deve ser tratada junto dos locais de vacinação.
Basta ir a um centro de vacinação
À RTP, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, justificou a mudança da norma que estava a causar transtornos a pessoas que precisavam de viajar para determinados países com essa exigência.
"Para facilitar a vida a todas as pessoas que necessitem de se deslocar para países onde são exigidas duas doses - mesmo a recuperados -, quem quiser fazê-lo dirige-se a um centro de vacinação, diz que vai deslocar-se para um desses países e ser-lhe-á administrada a segunda dose", afirmou Graça Freitas.
Até aqui, de acordo com o anterior ponto 11 da norma, a administração da segunda toma em recuperados que quisessem viajar estava limitada a deslocações "de comprovada urgência ou inadiáveis", nomeadamente por motivos de saúde, de representação diplomática/de Estado ou missões humanitárias. Acresciam as obrigações laborais e de estudo, ainda que "devidamente fundamentadas".
Recorde-se que em Portugal, tal como em vários outros países da Europa, as autoridades de Saúde consideram que o esquema vacinal de quem esteve infetado com a covid-19 fica completo com apenas uma dose.
"Estou super feliz"
A alteração da norma foi recebida de braços abertos por quem tem viagens marcadas e já esteve, em tempos, infetado com a covid-19. "Faz todo o sentido", afirma Alberto Magalhães, que a 15 de novembro embarca para o Canadá.
Esta semana, Alberto tinha relatado ao JN que a sua ida ao casamento da irmã, que vive naquele país da América do Norte, estava comprometida. Isto porque as autoridades canadianas exigem que os estrangeiros que entram no país - mesmo os recuperados de covid-19, como é o seu caso - tenham duas doses da vacina. Caso contrário, têm de cumprir 14 dias de isolamento à chegada.
"Estou super feliz, já falei com a minha irmã. Agora é pensar no mais importante, que é o fato", graceja Alberto. A irmã, relata, também ficou "bastante contente": "Saiu-lhe um peso de cima, porque sou eu que vou levá-la ao altar".
Alberto considera que a norma anterior não representava uma "discriminação", mas sim uma "falta de atenção". "Felizmente, a correção aconteceu a tempo", desabafa. Vai receber a segunda dose da vacina na segunda-feira e, por via das dúvidas, leva o bilhete de avião para provar que tem viagem marcada.
"Já tinha poucas esperanças"
Teresa Colaço, que parte para o Reino Unido a 10 de novembro, também ficou feliz com a alteração da norma da DGS: "Acho ótimo. As exigências eram super específicas", afirma, dois dias depois de ter lamentado, ao JN, que a sua viagem estava em risco.
"Quero acreditar que vai funcionar", afirma Teresa, prudente. "Se for simples, ótimo. Ainda tenho alguns dias para poder cumprir os 14 dias até ter o certificado digital".
A viagem, marcada desde março, servirá para Teresa e a mãe assistirem, juntas, a um concerto. Antes de receber a notícia de que a norma ia mudar, a jovem chegou a temer ter de cancelar os planos: "Já tinha poucas esperanças", admite.
Teresa está a estudar qual é o centro de vacinação mais próximo de sua casa, em Lisboa, de modo a cumprir a vacinação exigida pelo Reino Unido e escapar à quarentena - que, no país em questão, seria de dez dias. Tal como Alberto, "pelo sim pelo não", também vai preparada para mostrar as passagens de avião no dia em que for tomar a segunda dose.