Assunção de Nossa Senhora é a data com mais festas do Norte ao Sul, mas este ano voltam a estar condicionadas.
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O dia 15 de agosto é sinónimo de romaria em muitos pontos do país. Do Norte ao Sul, é tradição festejar a Assunção de Nossa Senhora nas aldeias e cidades, não raras vezes em torno dos adros das igrejas, num ritual de afirmação comunitária que este ano volta a estar condicionado pela proibição de procissões e de fogo de artifício.
Na Póvoa de Varzim, a tradicional procissão costumava parar em frente ao porto de pesca, para ver milhares de foguetes a serem lançados a partir dos barcos engalanados. Ao lado, em Santo Tirso, a procissão matinal seguia da capela velha até ao Mosteiro de Nossa Senhora d"Assunção, onde se multiplicavam os atos de adoração. Um único andor, da padroeira de Santo Tirso, era suficiente para juntar centenas de pessoas a subir o Monte Córdova. Em Torre de Moncorvo, onde a Nossa Senhora da Assunção também é padroeira, o festejo deste culto mariano remonta a pelo menos 1695. A procissão costumava ser o ponto alto das festas.
De Trás-os-Montes (Vila Flor) ao Algarve (Loulé e Vila Real de Santo António), as romarias da Nossa Senhora da Assunção multiplicam-se pelo território, com particular densidade no Minho e nas zonas costeiras, não fosse também ela a padroeira dos pescadores. No entanto, pelo menos até ao final de setembro, festas e romarias com procissões estão proibidas por serem um fator de risco "muito acrescido" de transmissão da covid-19, anunciou o primeiro-ministro.
Situação de alerta
Ao mesmo tempo, a declaração de situação de alerta para 14 concelhos do país decretou a "proibição total da utilização de fogo de artifício ou outros artefactos pirotécnicos", o que deixará ainda mais pobres as festas e romarias de Nossa Senhora da Assunção.
Moisés de Lemos Martins, sociólogo e professor catedrático no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, explica que as procissões são um exemplo de ritos inerentes à condição de ser-se humano, ou seja, "práticas regulares que organizam a vida da comunidade, que a marcam, que a pautam". Inserem-se no conceito tradicional de romaria com "uma dimensão religiosa clara, mas há muitas coisas que se misturam com as procissões", assinala.
Desde logo, "as romarias são a afirmação das comunidades locais" através de "práticas, gestos, palavras, tanto laicos como religiosos", numa época a que não é alheio o facto de ser um tempo de férias e de regresso dos emigrantes. Chegam a ser, acrescenta, "como uma espécie de catarse pelas coisas por que às vezes se passa, como trabalhar fora do país". Daí que se diga, e com razão, que "os excessos são próprios das festas".
Este ano, à semelhança do ano passado, as festas e romarias voltam a estar circunscritas a algumas atividades culturais e eucarísticas, ambas condicionadas pelas normas sanitárias.
Senhora d'Agonia
Rainha das festas de agosto a meio gás
As festas d"Agonia, de Viana do Castelo, vão decorrer este ano -de 19 a 22 - ainda a meio gás. Nesta altura, decorrem festividades religiosas, uma feira de artesanato e a exposição dos cartazes que concorreram à edição 2021. No Campo d"Agonia, onde tradicionalmente ficam instaladas rulotes de comes e bebes e equipamentos de diversão, este ano foi criado um recinto mais reduzido e com controle de entradas, com apenas alguns equipamentos de restauração.
Carrosséis e outras diversões não foram autorizados pela Câmara de Viana do Castelo, após avaliação conjunta com a comissão de festas e a Autoridade de Saúde. Uma decisão justificada com o facto de que "não estão reunidas as condições necessárias como o distanciamento social".
A romaria, a maior das festas de agosto, decorrerá sem os principais números que atraem milhares de pessoas à cidade: o desfile da Mordomia, que junta cerca de 500 mulheres trajadas nas ruas, e a Procissão ao Mar, transportando andores, entre eles o de Nossa Senhora d"Agonia. Serão transmitidos online vídeos de edições anteriores, vão realizar-se eucaristias ao ar livre e alguns números presenciais no Centro Cultural da cidade, como concertos e folclore.
A assunção
14
A Assunção de Nossa Senhora é feriado nacional em muitos países, incluindo 14 da Europa, contando com Portugal.
Dogma de 1950
O dogma ensina que, no final da vida terrestre, Virgem Maria "foi assumida, de corpo e alma, na glória celeste", como se lê na Constituição Apostólica "Munificentissimus Deus", do Papa Pio XII, de 1950.
Escapou à troika
Portugal elevou a Assunção de Nossa Senhora a feriado nacional em 1952 e desde então que é um dos mais importantes feriados católicos, ao ponto de não ter sido um dos excluídos nos anos da troika.