Todos os dias, as impressões de Ana Martins e Paulo Pinto Mascarenhas sobre o dia-a-dia da campanha para as legislativas.
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Desconfio que estamos perante o momento "Volkswagen" do debate político em Portugal. Assim como a marca alemã desenvolveu um software para falsear os resultados das emissões poluentes, parece que o debate sério nestes meses também foi falsificado. Quando, no pós-troika, havia todas as condições para fazer campanha eleitoral de forma mais substantiva e menos pueril, estamos perante mais uma período de eleições pleno de vacuidades. Para além de uma questão ou outra com a Segurança Social, parece que está tudo bem com os hospitais, os reformados não ficaram sem pensões, o salário médio não desceu 300euro por mês, a dívida não cresceu e não tivemos um massivo êxodo migratório. Parece até que foi o PS que governou estes quatro anos. A cara de Passos e Portas não aparece nos outdoors da coligação, mas aposto que são os gases tóxicos a tomar conta do folclore eleitoral.
Com a campanha quase a terminar acentua-se a tensão e a agressividade, sobretudo de quem vai atrás nas sondagens. Não admira que se assista a cenas pouco edificantes, organizadas para perturbar as caravanas eleitorais da coligação PSD/CDS. Não espanta também que António Costa, em mais uma tirada radical, chame "lobos maus" a Passos Coelho e Paulo Portas. Não foi na versão de Walt Disney - em que PS, CDU e BE poderiam ser os Três Porquinhos - mas na história do Capuchinho Vermelho (Catarina Martins?), com a avozinha (Jerónimo de Sousa?) e o caçador (o próprio Costa?). Portugal não é, de facto, um conto de fadas - e tudo indica que, nesta narrativa, o caçador se tem limitado a dar tiros nos pés.