Desde março que havia lamirés de que "algo de importante estava para acontecer", pelo que Ilda Figueiredo não foi apanhada totalmente desprevenida quando ligou o rádio, naquela manhã. Os militares tinham tomado conta das ruas, era o fim do regime.
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"Alegria, muita alegria" é a principal recordação que guarda do período entre o 25 de abril e o primeiro 1.º de maio assinalado em Portugal. Foi, aliás, nessa semana que se inscreveu no Partido Comunista Português, materializando a sua convicção política de Esquerda. Tinha 25 anos de idade.
Saiu de casa, portanto, consciente de que poucas aulas daria na secundária de Oliveira Martins, no Porto. Ilda Figueiredo não era a única professora com convicções políticas de Esquerda. "Tudo parecia indicar o fim da ditadura, propusemos aos alunos ir celebrar para a rua". E foram.
O destino foi a rua do Heroísmo. Onde é hoje o Museu Militar, na altura estava instalada a PIDE, em cujos calabouços estavam presos políticos como Virgínia Moura. Teria assistido à sua libertação, não fora ter ido nessa altura buscar os dois filhos pequenos. "Fui buscá-los ao infantário e levei-os para casa da minha mãe", onde ficaram os dois primeiros dias, conta. "Tenho alguma pena de não ter assistido à libertação", confessa, mas "a segurança dos filhos estava em primeiro lugar".
Os dias seguintes foram passados na rua. Não se recorda de sentir insegurança, só receio que a revolução falhasse. "Nos primeiros dois dias quase não dormimos, íamos do Heroísmo para os Aliados, dos Aliados para o Heroísmo, era uma alegria tremenda". O percurso tornou-se uma romaria diária, acompanhada por cada vez mais gente, a multidão alastrando-se até ao 1.º de maio. "Foi a consagração definitiva da revolução", dia em que, recorda, não cabia mais gente na praça central do Porto.