Diferença salarial entre migrantes e nacionais aumenta em países de elevado rendimento
Em Portugal, a diferença aumentou em relação ao último registo feito em 2015. Em geral, na União Europeia, a diferença é de apenas 9%. As mulheres são quem mais fica a perder
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Os trabalhadores migrantes ganham em média 13% menos do que trabalhadores nacionais em países de elevado rendimento, revela um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Nos últimos cinco anos, a diferença salarial tem vindo a aumentar em alguns destes países.
Em Portugal, a diferença salarial é de 29%, em comparação com os 25% de 2015. Em Itália, os trabalhadores migrantes ganham menos 30% do que os nacionais e, em 2015, ganhavam menos 27%. No Chipre, a diferença salarial por hora é 40%, a mais elevada registada no relatório. A Finlândia é inferior à média, com 11%. A União Europeia, como conjunto, regista uma diferença salarial entre trabalhadores migrantes e nacionais de 9%.
O relatório The Migrant Gap: understanding the wage differences between migrants and nationals mostra que trabalhadores migrantes nos países de elevado rendimento têm mais probabilidades de ter um trabalho precário. 27% dos trabalhadores têm contratos temporários e 15% trabalham a tempo parcial. Estes migrantes aceitam mais empregos do que os nacionais nos setores primário e secundário.
Migrantes ganham menos que os nacionais
Quanto às diferenças de salários tendo em consideração as competências, trabalhadores migrantes ganham menos do que os nacionais com as mesmas competências numa categoria profissional, e têm maior probabilidade de ter empregos menos qualificados, que não correspondem à sua formação escolar.
Para além disso, estes trabalhadores têm menos probabilidades de conseguir empregos em categorias profissionais mais elevadas. Nos Estados Unidos da América, 78% dos trabalhadores migrantes têm o ensino secundário, mas apenas 35% tem empregos altamente ou semi-qualificados.
Na Finlândia, são 98% os trabalhadores migrantes com o ensino secundário e 50% que exercem funções em empregos altamente ou semi-qualificados.
Esta tendência inverte-se em países de baixo e médio rendimento: os trabalhadores migrantes tendem a ganhar cerca de 17% mais por hora do que os nacionais.
Mulheres com mais dificuldades
As trabalhadoras migrantes mulheres enfrentam uma penalização salarial dupla, por serem migrantes e mulheres. A diferença salarial entre nacionais homens e migrantes mulheres é de 21% por hora nos países de elevado rendimento. Isto deve-se ao facto de as mulheres migrantes representarem 73% de todo o trabalho doméstico feito por mulheres.
A pandemia teve um grande impacto nas vidas dos trabalhadores migrantes, sendo que dezenas de milhões tiveram de regressar a casa depois de perderem os seus empregos. Para além disso, os seus postos de trabalho prestam-se menos ao teletrabalho e um grande número trabalha na linha da frente com maior exposição ao covid-19.
Michelle Leighton, Responsável da Unidade de Migração Laboral da OIT diz que "os trabalhadores migrantes enfrentam desigualdade de tratamento no mercado do trabalho" e "desempenham um papel fundamental em muitas economias. Não podem ser considerados como cidadãos e cidadãs de segunda classe".