Direção do CES vai avaliar "medidas a tomar" depois de novas acusações de assédio
A direção do Centro de Estudos Sociais (CES), em Coimbra, "está a avaliar as medidas a tomar" depois de conhecidos mais relatos de alegada agressão sexual do investigador Bruno Sena Martins contra duas mulheres.
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"Face às denúncias hoje [esta quarta-feira] vindas a público sobre alegadas situações de assédio sexual, a Direção do Centro de Estudos Sociais (CES) esclarece que não tinha conhecimento destas alegações até à data de hoje. Face aos relatos agora conhecidos, a direção está a avaliar as medidas a tomar", respondeu fonte da instituição ao JN.
Em relatos divulgados esta quarta-feira, Andrea Vásquez e Helen Barbosa dos Santos, estudantes e investigadoras que fizeram cursos de verão no CES, afirmaram ao jornal "Diário de Notícias" terem sido vítimas de violência sexual por Bruno Sena Martins.
As duas mulheres juntam-se assim a Miye Nadya Tom, uma das autoras do artigo que espoletou o escândalo no CES e que acusa Bruno Sena Martins de agressão sexual. Contactado pelo DN, Bruno Sena Martins não quis dar quaisquer esclarecimentos.
Dois anos após a publicação do livro "Má conduta sexual na Academia - Para uma Ética de Cuidado na Universidade", em abril de 2023, pela editora académica Routledge, surgem assim novas acusações contra o investigador do CES. Na mesma obra era também visado o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.
Bruno Sena Martins voltou ao CES
Ao contrário de Bruno Sena Martins, que anunciou ter regressado ao trabalho no CES, em março deste ano, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos acusou a instituição de "linchamento" e saiu em definitivo dos cargos que ocupava.
Andrea Vásquez relatou ao DN que participou num curso de verão, em 2017, realizado num hotel em Coimbra. Depois das aulas, os alunos e professores ficavam a conviver. "Na noite em causa eu tinha bebido bastante e estava ali, numa zona do rés do chão, sentada. E o Bruno sentou-se ao pé de mim e começou a tocar-me. Não me beijou ou algo assim, pôs a mão dele dentro dos meus calções", conta.
Assédio ocorria em contextos informais
Já Helen Barbosa dos Santos acusa o antropólogo de lhe ter tocado na perna num bar em maio de 2017, depois de ter participado numa aula de Boaventura de Sousa Santos.
Na casa de Bruno Sena Martins, onde Helen e uma amiga pernoitaram para evitar os custos de uma estadia num hotel, o antropólogo entrou no quarto onde as duas mulheres iam dormir. "Estávamos na cama e ele deitou-se e foi aí o abuso. Me agarrou muito forte por trás e pegou os meus peitos. Dei um grito e quando gritei, ele se deu conta e saiu do quarto", disse.
No relatório da comissão independente do CES, publicado em março de 2024, os especialistas referiram haver "indícios de que atividades de integração informais (por exemplo, jantares, convívios fora do CES) geraram situações inadequadas ao contexto académico".
Além disso, as situações de alegado assédio e agressão sexual ocorriam maioritariamente fora do local de trabalho, em horário pós-laboral e após o consumo de álcool, o que reforçava "a falta de fronteiras seguras entre a esfera profissional e a esfera privada".
Há ainda um inquérito aberto no Ministério Público sobre o tema.