Direita olha para o 25 de novembro "com um olho tapado", critica Vasco Lourenço
Vasco Lourenço, militar de Abril conotado com a ala moderada, celebra o 25 de novembro mas não coloca essa data no mesmo patamar do 25 de abril. Ao JN, alega que a Direita tem "uma visão parcelar" dos acontecimentos de 1975, esquecendo que os seus setores mais extremistas tentaram fazer "um novo 28 de maio".
Corpo do artigo
"O 25 de novembro permitiu recolocar o 25 de abril nos seus carris", argumenta Vasco Lourenço, lembrando que, nesse dia de 1975, ele próprio teve "fortes responsabilidades do lado vencedor".
No entanto, acrescenta: "Se queremos comemorar o 25 de novembro, também temos de comemorar o 28 de setembro e o 11 de março". Esta quinta-feira, recorde-se, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, anunciou que a autarquia passará a comemorar o 25 de novembro.
Vasco Lourenço sustenta que, em conjunto, o 28 de setembro de 1974, o 11 de março de 1975 e o 25 de novembro de 1975 permitiram "consolidar" o poder do Movimento das Forças Armadas (MFA) e a legitimidade da Assembleia Constituinte, que preparava a Constituição pós-Estado Novo.
O 28 de setembro diz respeito à manifestação da "Maioria Silenciosa", convocada por setores saudosistas da ditadura - e impedida pelo MFA - em defesa do reforço do poder do general António de Spínola. Já o 11 de março foi uma tentativa de golpe orquestrada por Spínola, que seria igualmente derrotada e que daria início ao período de maior radicalização à Esquerda.
"Não confundo o 25 de novembro com o 25 de abril", prossegue Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril. Embora também celebre o 25 de novembro - que, de acordo com alguns setores, impediu um golpe comunista -, o militar de Abril não tem dúvidas: "A data fundamental é o 25 de abril, mesmo com todos os seus percalços".
"A minha maior vitória foi impedir a 'democracia musculada' da Direita"
Questionado, Vasco Lourenço diz ter visto o anúncio de Carlos Moedas "com alguma surpresa", sobretudo numa altura em que se discutem as comemorações dos 50 anos do 25 de abril. Se o país estivesse em vésperas do cinquentenário do 25 de novembro, a decisão do autarca da capital seria "mais compreensível", avalia.
O militar de abril sustenta que não faz sentido, "de maneira nenhuma", comemorar o 25 de novembro ao mesmo nível do 25 de abril, já que as duas datas "não são a mesma coisa". Embora acredite na boa-fé de Moedas, diz não compreender o fascínio de "alguma Direita" com os acontecimentos de novembro. A esses, atira: "Querem comemorar o quê? A vossa derrota?".
Lourenço defende que esses setores olham para o 25 de novembro "de forma parcelar", varrendo "para debaixo do tapete" que, por essa altura, também se evitou "que a extrema-direita conseguisse um novo 28 de maio [golpe que, em 1926, instaurou a ditadura militar]". "Têm um olho tapado quando abordam este tema", argumenta, referindo que compreende que o façam "em termos de propaganda", mas que discorda dessa posição.
"A minha maior vitória nesse dia nem sequer foi conseguir que as Esquerdas colocassem na gaveta os seus projetos ditos democráticos", relata Vasco Lourenço, referindo-se ao PCP e à extrema-esquerda. "O mais difícil foi evitar que as Direitas conseguissem impor a sua chamada 'democracia musculada'", acrescenta, reforçando: "O que me deu mais prazer foi impedir que as Direitas conseguissem fazer um novo 28 de maio".