Gosto de ler Hans Küng. Sei que, em tempos, foi colega universitário e amigo do teólogo Joseph Ratzinger.
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Não deve ter gostado que Roma lhe censurasse algumas das suas teses teológicas e ficou com um ódio de estimação pela Congregação da Doutrina da Fé, a que presidiu o cardeal Ratzinger.
Poucos meses depois de ter sido eleito, Bento XVI teve a amabilidade de convidar Küng para um encontro entre amigos. Cheguei a pensar que as críticas de Küng tivessem maneiras. Mas não, redobraram de acidez e, ainda agora, pela enésima vez, é indelicado e injusto com o Papa, ao pôr em questão o compromisso ecuménico de Bento XVI. Tudo isso a propósito do eventual acolhimento que a Igreja Católica poderá fazer aos anglicanos descontentes com a sua Igreja.
É um exagero dizer que o gesto de Bento XVI é uma "tragédia" e de "pirataria ecuménica". Convencido que o Papa tem ofendido judeus, muçulmanos, protestantes e, agora os anglicanos, tudo por razões de conservadorismo, convida a uma frente comum, parafraseando Karl Marx: "Tradicionalistas de todas as igrejas, uni-vos!". E alerta: "O pescador de homens pesca sobretudo na margem direita do lago. Mas, aí, a água é turva".
O direito à dissidência não cruza bem com o azedume crítico. O ressentimento rouba lucidez aos argumentos e Küng não esconde a sua mágoa de ofendido. Será isso o ódio teológico?