Sintomas de esclerose múltipla são encarados como "fita". Doença progressiva é incompreendida.
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Portadora de esclerose múltipla, Madalena Rafael reformou-se aos 44 anos. Ao longo de 12 anos, trabalhou em três tribunais, como oficial de Justiça, onde garante que enfrentou situações de discriminação constantes, da parte dos chefes e dos colegas. Apesar dos sinais evidentes da debilidade, entendiam que Madalena Rafael estava a "fazer fita", pelo que foi sujeita a situações humilhantes. Este domingo, assinala-se o Dia Mundial da Esclerose Múltipla.
Madalena, hoje com 51 anos, identificou os primeiros sintomas da doença quando tinha 22. "O meu pé direito começou a ficar muito branco e sem força, e comecei a coxear", recorda. "Não sentia a água a ferver". O diagnóstico chegou depois de ter feito uma punção lombar e uma biopsia. "Como desconhecia a doença, eu e os meus dois irmãos fomos à enciclopédia ver e começámos todos a chorar. Foi um choque muito grande".
Apesar das sequelas causadas pelos surtos, Madalena conseguiu concluir a licenciatura e entrar na Função Pública em 2002. Quatro anos mais tarde, a sua situação de saúde agravou-se.
Uma nevrite, que lhe "embaciava o olho esquerdo", tornou insustentável percorrer 160 quilómetros, todas as semanas, até à Lourinhã, onde trabalhava num tribunal, pelo que pediu destacamento para Coimbra, onde mora, mas o chefe não autorizou.
Com a progressão da doença, o nível de cansaço foi aumentando e a nova medicação obrigava-a fazer análises de 15 em 15 dias. Além disso, sempre que tinha surtos tinha de ficar em Coimbra, a fazer tratamentos de cinco dias. "Quando regressava ao trabalho, o meu chefe dizia que era tudo fita e que eu queria era ficar em casa".
Depois de ter sido transferida, Madalena continuou a ser discriminada. "Quando havia acidentes de viação, tinha de se fazer uma inspeção no local. Éramos cinco, mas o meu chefe escolhia-me a mim, apesar de usar bengala e de ver muito mal.
Alexandre Silva, presidente da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, confirma que a doença é desconhecida, inclusive pelos médicos, e que os doentes são discriminados no mercado laboral e acabam por optar por se reformar mais cedo.