Discurso de Marcelo agrada a PS, PSD, Chega e IL, Esquerda desvaloriza 25 de Novembro
O primeiro-ministro e o PS, PSD, Chega e IL elogiaram o discurso do presidente da República nas comemorações do 5 de Outubro, ainda que cada um tenha valorizado aspetos diferentes da intervenção. A Esquerda entende que as comemorações do 25 de novembro, anunciadas por Carlos Moedas, servem para "desviar as atenções".
Corpo do artigo
O primeiro-ministro descreveu a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa como "uma reflexão particularmente interessante", cuja mensagem principal foi a necessidade de "antecipar as questões para tomar as boas decisões". António Costa considerou que esse aviso é "particularmente oportuno" uma vez que, esta quinta-feira, se realiza uma discussão, na União Europeia, sobre o futuro da Europa.
Costa considerou que o alargamento da União - tema abordado por Marcelo, que manifestou algumas reservas - é "essencial" para a paz da Ucrânia. Ainda assim, concordou que esse processo só se tornará um "caso de sucesso" se forem feitas "reformas" a nível europeu. O primeiro-ministro, que estava de partida para a Cimeira da Comunidade Política Europeia, em Granada, Espanha, não fez mais comentários.
Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, considerou que a intervenção do chefe de Estado foi "muito orientada para o futuro". Procurou mostrar que muitos dos temas abordados - como o clima, os jovens ou a aposta na "justiça social" como forma de limitar os que querem "atacar a democracia" - correspondem às prioridades dos socialistas.
Questionado sobre o reparo que Marcelo fez à "inércia" das instituições, Brilhante Dias disse estar convencido de que a mensagem não era para o PS nem para o Governo, mas sim para algumas "instituições internacionais", como a ONU.
PSD diz que Marcelo está sintonizado com o "país real", ao contrário de Costa
Hugo Soares, secretário-geral do PSD, elogiou a mensagem do presidente, que considerou "muito colada ao país real" por dar conta dos problemas vividos pelos médicos, professores, oficiais de justiça, agentes de autoridade e por quem paga "demasiados impostos". Considerou que o discurso foi contrastante com a entrevista de Costa, na segunda-feira, à TVI/CNN, na qual o primeiro-ministro "praticamente não reconheceu qualquer problema".
Hugo Soares enalteceu também o facto de Marcelo ter feito um "apelo repetido às reformas" e a que se governe sem esperar "que as coisas aconteçam por elas".
Apesar de o presidente ter feito vários alertas contra os autoritarismos, André Ventura, do Chega, considerou o discurso "mobilizador" e revelou que o seu partido o subscreve. O deputado salientou o "recado" que Marcelo deixou a Costa ao frisar que, "nas entrelinhas da História, está a ideia de que ou [o primeiro-ministro] muda agora, ou a mudança acontecerá contra si".
Ventura anunciou também que o Chega vai tentar agendar um debate obrigatório para que o Parlamento passe a celebrar o 25 de novembro com uma sessão solene, seguindo o exemplo dado pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas. No entender do deputado, esta data "deve ser celebrada por todos".
Rui Rocha, líder da IL, argumentou que os pedidos de "reformas" foram uma "mensagem clara" para o primeiro-ministro. Tal como o PSD, também o liberal afirmou que, enquanto Marcelo avisa contra os perigos de se perder "o sentido da realidade", Costa parece um "residente não habitual", que "anda por cá mas não sabe exatamente o que se passa".
Questionado sobre o anúncio de Moedas acerca do 25 de novembro, Rui Rocha elogiou o autarca por dar à data a "devida dignidade", acusando a Esquerda de tentar "reescrever a História" do processo revolucionário iniciado a 25 de abril de 1974.
Esquerda diz que data fundadora foi o 25 de abril e não o 25 de novembro
À Esquerda, Paula Santos, líder parlamentar do PCP, considerou que, embora Marcelo tenha dado alguma atenção aos "problemas mais gerais" do país, a exigência de "respostas concretas" que promovam a mudança em matéria de rendimentos, saúde, habitação ou educação "esteve ausente" do discurso.
Questionada sobre o 25 de novembro, a comunista preferiu lembrar os "avanços extraordinários" possibilitados pelo 25 de abril, frisando que foi essa data que trouxe o "caminho do progresso, da liberdade e da democracia" e que permitiu pôr fim à guerra colonial e ao fascismo.
Pedro Filipe Soares, líder da bancada do BE, sustentou que o chefe de Estado falhou "na apresentação de soluções". Estranhou que Marcelo não tenha dito nada sobre habitação depois da "guerra" que travou com Costa sobre o tema, frisando que "não repetir os erros do passado", como pediu o presidente, passa por dar aos jovens "garantias" para que estes consigam tornar-se independentes.
O bloquista anunciou também que o seu partido marcou, para 25 de outubro, um debate parlamentar obrigatório sobre habitação, para discutir temas como a proibição da venda de casas a não residentes ou os tectos nas rendas. Preferiu desvalorizar o tema do 25 de novembro, alegando que Moedas puxou o assunto para o seu discurso com o objetivo de "desviar as atenções do essencial".
Mais ao Centro, Rui Tavares, do Livre, elogiou a "excelente contextualiação histórica" feita por Marcelo, enquadrando as "debilidades" da democracia e denunciando quem se aproveita delas. O deputado considerou que, embora o 25 de novembro seja uma "data importante", foi o 25 de abril que possibilitou "tudo o que veio a seguir". Criticou Moedas por mostrar uma "face moderada" enquanto estimula "polarizações artificiais".