Confederação do Comércio admite discutir fechos antecipados para poupar energia. Retalhistas e shoppings contra.
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No início do próximo mês o Governo apresenta o seu plano de poupança energética por forma a cumprir as metas acordadas com Bruxelas. Foram pedidos contributos aos parceiros, entre os quais a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), que se mostra disponível para discutir limitações nos horários de funcionamento. Hipótese descartada, desde logo, pelas associações que representam os retalhistas e os centros comerciais.
A possibilidade de antecipar o fecho de lojas foi admitida pelo presidente da CCP ao "Negócios" e está em linha, diz ao JN João Vieira Lopes, com o que sucede em "vários países europeus". Lembrando que "Portugal é dos países da Europa com horários mais extensos", aquele responsável mostra disponibilidade para estudar a medida, tanto para o comércio de rua - por zonas, devido ao turismo - como para os centros comerciais.
Neste caso, encerrando as lojas mais cedo, de "domingo a quinta, porque toda a gente sabe que depois do jantar praticamente não há compras". De fora, ficariam cinemas e restaurantes. A CCP propõe, ainda, a desburocratização do processo para instalação de painéis solares, alterações na iluminação pública e de lojas à noite e incentivos à substituição por lâmpadas LED. Sendo que "a base de cálculo para a baixa de consumo não pode ser 2020/21", devido aos encerramentos ditados pela pandemia.
Limitar ar condicionado
Determinantemente contra, o diretor-executivo da Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC) sublinha existirem "outras medidas, sem pôr em causa a atividade económica dos lojistas". Entre as quais, e em linha com o que está já a ser feito em Espanha, alterações na climatização, com limites nas temperaturas dos aparelhos de ar condicionado. Tanto mais que, diz Rodrigo Moita de Deus, "grande parte dos custos de energia de um centro comercial é a climatização". Entre as propostas entregues à Agência para a Energia (Adene) - que, a pedido do Ministério do Ambiente, prepara o referido plano -, a APCC avança com alterações ao nível da iluminação e dos meios mecânicos como as escadas rolantes.
O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, por sua vez, alerta para o perigo que "medidas populistas podem induzir". Lembrando Gonçalo Lobo Xavier "que os centros comerciais, hoje, são espaços de fruição para alguma camada da população, por terem outras comodidades", defendendo "reflexão e bom senso".
Sendo "um negócio de eficiências, o retalho também o procura na área energética, com investimentos que permitiram reduzir até 30% o consumo de energia por metro quadrado", explica. Defendendo também "a agilização dos processos de licenciamento de painéis solares".
União Europeia
Para fazer face a um possível corte do fornecimento por parte da Rússia, os 27 Estados-membros acordaram, no final de julho, a redução até 15% do consumo de gás natural para enfrentar o próximo inverno. Portugal, que juntamente com Espanha se opôs à medida, conseguiu, segundo explicara na altura o ministro do Ambiente, uma "isenção parcial", com um corte até 7%.
Espanha poupa 3,7%
Espanha avançou logo neste mês com uma série de medidas para baixar o consumo de eletricidade: em espaços públicos e comerciais a temperatura não pode ser inferior a 27 graus no verão e 19 no inverno; a iluminação de montras, monumentos e outros edifícios estará desligada a partir das 22 horas; reforço do teletrabalho na Administração Pública (AP), entre outras. O que fez com que entre a primeira e a segunda semanas de agosto o consumo de eletricidade caísse 3,7%
Plano em curso
Por cá, o Ministério do Ambiente pediu à Adene - Agência para a Energia que preparasse um plano de poupança energética, tendo aquela instituição ouvido vários parceiros para o efeito. Que poderá passar por uma campanha geral de sensibilização e limitação de consumo nos edifícios da AP. Será apresentado no início de setembro.