Apesar da família numerosa, Palmira Barbosa passa os dias sozinha em casa. Tem 67 anos e trabalhou como auxiliar de ação médica no Hospital de S. João, no Porto. A falta de visão, consequência dos diabetes, e os problemas de locomoção enviaram-na para casa mais cedo do que o esperado, com a reforma antecipada. Desde então, continua a viver na Rua Justino Teixeira, em Campanhã, no Porto, mas sem o alento da família.
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"Fiquei sozinha desde a morte do meu marido e da minha mãe, há 11 anos", lamenta, enquanto passa os olhos pelas fotografias na prateleira da sala. "A minha filha mais nova está em Inglaterra e não me dou com a outra", explica.
A pensão não vai além dos 400 euros por mês e as despesas rondam os 150. Todos os dias conta com o apoio da vizinha Sílvia Reis, de 26 anos, que lhe leva o almoço. "É ela que me ajuda a fazer as compras e a lavar a roupa, porque eu estou completamente sozinha", suspira Palmira Barbosa.
O laço familiar que lhe resta é a neta de 22 anos, que está institucionalizada, a quem telefona todos os dias.
despesas de saúde
É a tratar o dinheiro como se fosse elástico que Luzia Machado vai cobrindo todas as despesas. Com 400 euros mensais por invalidez, paga renda, água, luz, gás e alguma da medicação que não é comparticipada pelo Estado. "Fico com cerca de 200 e tal euros que têm de ser espremidos para dar para tudo", afirma Luzia Machado, de 62 anos, que vive na Urbanização de Vila d"Este, em Gaia.
São os três filhos que lhe vão dando auxílio para fazer frente a todas as necessidades. "[O dinheiro da reforma] é muito pouco. Como é que dava para ter mais alguma coisa e viver bem o resto da vida?", lamenta Luzia, que só consegue ouvir com a ajuda de um aparelho auditivo. "Fiquei completamente surda depois de ser operada. Não ouço nada", contou. "Dizem que o sol nasceu para todos, mas não", acrescenta, desiludida.
De cinco em cinco anos, o dispositivo auricular tem de ser substituído, o que representa um custo de 1800 euros. "Como é que eu conseguiria pagar?", revolta-se. "Andei a pedir dinheiro aos meus filhos e a outros familiares. Agora estou a pagar-lhes aos poucos. Até tive vergonha. Eles também têm a vida deles", confessa.
Ao lado, a acenar com a cabeça em concordância está a vizinha Rosa Brandão, de 69 anos. "A minha reforma são 200 e tal euros. Com o complemento solidário da Segurança Social fico com 320", revela.
A hipertensão, a osteoporose e o cancro da mama - do qual está a recuperar - obrigam a uma despesa entre os 30 e os 40 euros. Gerir os custos da alimentação é outro dos problemas. "O carrinho das compras às vezes não leva tudo o que precisamos. Não vejo como é que isto vai mudar", conclui.