Do "dia feliz" ao pedido de celeridade: as reações ao anúncio do aeroporto em Alcochete
O Governo decidiu que o novo aeroporto de Lisboa será construído no Campo de Tiro de Alcochete, acatando, assim, a recomendação da comissão técnica independente. As reações ao anúncio não tardaram a chegar, com pedidos de que a decisão seja definitiva.
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O presidente da Câmara de Alcochete, Fernando Pinto, manifestou-se satisfeito com a decisão de o novo aeroporto vir a ser construído na região, considerando benéfico para a sua população. "Fico satisfeito porque, embora não estando no território de Alcochete, mas tendo em conta a proximidade da vila de Alcochete ao epicentro de todas as decisões, entendo que os danos colaterais desse investimento são positivos para a minha terra e para a minha gente", disse, em declarações à agência Lusa.
Já o presidente da Câmara de Vendas Novas, no distrito de Évora, considerou esta terça-feira que a localização do novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete vai também beneficiar o seu concelho. "Nós vemos Alcochete como uma espécie de 'Vendas Novas II'. Nós estamos localizados a 30 quilómetros daquela localização [onde vai surgir o novo aeroporto] e o impacto que vamos ter ao nível do nosso concelho sentir-se-á necessariamente", disse Valentino Salgado Cunha em declarações à agência Lusa.
À Lusa, o presidente da câmara alentejana disse ainda não haver ressentimrntos por o Governo ter escolhido o Campo de Tiro de Alcochete em detrimento de Vendas Novas. "Não temos, propriamente, uma antevisão negativa desta decisão. Estamos contentes, obviamente, porque se decidiu. Possivelmente preferiríamos a localização de Vendas Novas, mas aceitamos a de Alcochete com agrado, com naturalidade e estamos aqui dispostos para trabalhar por isso", afirmou.
"Um dia feliz"
O presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, afirmou que hoje "é um dia feliz" e garantiu que o concelho "está preparado e disponível" para acolher o novo aeroporto da região de Lisboa e "servir os interesses país".
"Para a região de Benavente é seguramente uma boa noticia, porque vai assegurar o desenvolvimento e melhorar as condições de vida da nossa população [...] e estamos preparados para receber uma infraestrutura desta natureza", disse o autarca, em declarações à Lusa.
O presidente do município alertou, contudo, que será necessário um conjunto de intervenções, sobretudo na rede rodoviária, para "evitar o colapso no tráfego automóvel", apesar de o território já ter infraestruturas "muito boas", com capacidade para dar resposta ao novo aeroporto.
O presidente da Câmara Municipal do Seixal congratulou-se pela construção do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete e lembrou que foi o Seixal que impediu que fosse cometido um "erro estratégico" para o país. "Foi sem dúvida a luta da Câmara Municipal do Seixal que impediu que se cometesse um erro estratégico gravíssimo para o país que teria sido a opção Montijo, que foi considerada pela Comissão Técnica Independente como a pior das opções", disse Paulo Silva em declarações à agência Lusa.
O autarca explicou que o município do Seixal usou na altura todos os meios, nomeadamente o direito de veto, para não deixar avançar a opção Montijo. "Vale a pena lutar quando temos razão na luta. Na altura fomos muito criticados e disseram que nós os comunistas estávamos contra o desenvolvimento da região. Não, nós estávamos era a lutar pelo desenvolvimento da região de Setúbal defendendo boas opções", disse.
Alcochete é a opção "mais cara e demorada"
O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, considerou que a decisão de construir o novo aeroporto da região de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete representa a solução "mais cara e demorada", sendo necessários 10 a 12 anos. "Saúdo o Governo pela decisão, mas fizemos aquilo que é normal em Portugal: escolhemos sempre o mais caro e o mais demorado", disse Ricardo Gonçalves, em declarações à Lusa.
O Turismo do Centro saudou que "finalmente" exista uma solução para o novo aeroporto da região de Lisboa, no Campo de Tiro de Alcochete, mas salientou que a opção Santarém seria mais adequada para "a coesão territorial". "Um aeroporto que, além de Lisboa, servisse os interesses do resto do país, como era a opção Santarém, teria sido mais adequado para a coesão territorial", refere o Turismo do Centro de Portugal em comunicado.
ANA disponível para trabalhar no imediato na decisão do Governo
A ANA Aeroportos anunciou que está disponível para trabalhar de imediato na decisão do Governo de avançar com um aeroporto em Alcochete e de aumentar a capacidade da Portela até à entrada em funcionamento da nova infraestrutura.
"A ANA - Aeroportos de Portugal reitera o seu compromisso com o desenvolvimento do setor aeroportuário nacional em benefício do turismo e da economia e está inteiramente disponível para trabalhar, no imediato, nas soluções hoje apresentadas pelo Governo", referiu em comunicado, em comunicado enviado à Lusa.
A ANA garantiu que "vai dar seguimento ao processo de desenvolvimento desta decisão, nos termos do Contrato de Concessão".
Que seja "escolha definitiva"
A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) saudou a escolha, esperando que esta seja uma "decisão definitiva" e que não venha a ser posta em causa por outros governos.
"A CTP saúda a decisão anunciada hoje pelo Governo, que confirma a escolha de Alcochete como localização do novo aeroporto internacional da região de Lisboa, sendo que avançarão obras para a expansão do Aeroporto Humberto Delgado, tendo em conta o tempo que irá demorar a construção do novo aeroporto", defendeu, em comunicado.
Citado na mesma nota, o presidente da CTP, Francisco Calheiros, afirmou que a confederação congratula-se com a decisão hoje anunciada. No entanto, disse esperar que esta seja "uma decisão definitiva", que não venha a ser posta em causa por outros governos, "algo a que infelizmente" já se assistiu nos últimos anos.
TAP pede celeridade
O presidente executivo da TAP, Luís Rodrigues, também saudou a decisão do Governo sobre o novo aeroporto da região de Lisboa, pedindo que a construção se desenrole "o mais depressa possível e com o mínimo de obstáculos". "O novo aeroporto tem uma história muito longa e que não nos orgulha a todos. Haver uma decisão e haver um processo que começa agora, acho que é saudável para todos e ainda bem que assim é", disse, em declarações aos jornalistas em Londres, onde esteve para comemorar o 75.º aniversário da ligação aérea Lisboa-Londres.
O responsável, que falou pouco antes do anúncio, manifestou o desejo que a construção se desenrole "o mais depressa possível e com o mínimo de obstáculos possível". "Espero que isso se venha a concretizar, que é bom para todos", vincou.
Reconhecendo que o novo aeroporto "não vai estar pronto nos próximos sete, oito, dez anos, Luís Rodrigues, explicou que "a TAP tem que arranjar maneira de evoluir e continuar a crescer até lá, pouco a pouco, nos outros aeroportos, Porto, Faro, Funchal, Ponta Delgada".
Quando o novo aeroporto estiver operacional, garantiu, a TAP "vai ser uma nova companhia, com mais oportunidades de crescimento, e isso é muito importante, até para o processo de privatização". "A expansão da Portela [atual Aeroporto Humberto Delgado] é o necessário para acomodar até lá, porque o novo aeroporto vai demorar esses anos a fazer. Para não ficarmos parados no mesmo sítio durante mais estes sete a dez anos, acho que é inevitável que a Portela crescer dentro dos limites da sua capacidade física", acrescentou.
ASASC pede que "seja feita justiça com referência ao Campo de Tiro de Samora Correia"
O presidente da Junta de Freguesia de Samora Correia considerou que a escolha do Campo de Tiro de Alcochete para o novo aeroporto de Lisboa é a decisão que melhor serve os interesses do país e da freguesia. "Vejo com agrado esta decisão porque parece-me ser aquela que melhor serve os interesses de Portugal, os interesses nacionais", disse à agência Lusa Augusto Marques, na sequência do anúncio da localização do novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro da Força Aérea, no concelho de Benavente.
A Associação Social Amigos de Samora Correia (ASASC) congratulou-se com a decisão de o novo aeroporto ser construído naquela freguesia e propôs constituir-se uma comissão municipal para se preparar um modelo de desenvolvimento.
"A ASASC congratula-se com novo aeroporto em Samora Correia", no concelho de Benavente, distrito de Santarém, indicou num comunicado a associação, que participou na consulta pública ao relatório preliminar da Comissão Técnica Independente (CTI), responsável pela avaliação ambiental estratégica do novo aeroporto.
Defendendo a "identidade de Samora Correia", a ASASC apelou que "seja feita justiça com referência ao Campo de Tiro de Samora Correia", dado o mesmo estar inserido na freguesia com 322 km quadrados e cerca de 19 mil habitantes.
"Imaginem referirmos Santuário de Ourém em vez de Fátima", referiu o presidente da ASASC, Nelson Lopes, citado no comunicado, considerando tratar-se de uma "situação idêntica", já que a decisão do Governo aponta para uma localização em que "a cidade aeroportuária ocupará terrenos de Canha e Samora Correia".
Plataforma Aeroporto BA6 - Montijo Não! diz que escolha de Alcochete só peca por tardia
A Plataforma Cívica Aeroporto BA6 - Montijo Não! considerou que a construção da nova infraestrutura aeroportuária no Campo de Tiro de Alcochete é uma "decisão acertada" do Governo e que "só peca por tardia". "É uma decisão acertada, que só peca por tardia. Esperamos que o início da construção do aeroporto se concretize o mais rápido possível, no menor prazo possível", disse à agência Lusa o porta-voz da plataforma, José Encarnação.
A plataforma foi sempre contra a opção de construção do aeroporto na Base Aérea do Montijo, alegando que representaria graves prejuízos para a segurança, a saúde e o bem-estar das populações, bem como graves atentados ao meio ambiente. "Nos últimos dias tem sido adiantado, não pelo Governo, mas, eventualmente, por fontes bem informadas, que a terceira travessia sobre o Tejo, ou pelo menos a alta velocidade, não será encargo do aeroporto, tal como tinha sido considerado pela Comissão Técnica Independente (CTI) no estudo sobre o novo aeroporto. Isto terá obedecido a contrapartidas em negociações que também envolveram a concessionária ANA, embora todos saibamos que quem manda na ANA é o acionista VINCI", acrescentou.