Tinha, e continuou a ter, viagem marcada para agosto de 1974, rumo à Universidade de Sussex, no Reino Unido, onde faria o doutoramento.
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Mas o 25 de Abril, esse mesmo, foi passado no Porto e mexeu nos hábitos de Maria Teresa Lago, então com 27 anos e assistente na Faculdade de Ciências: "Foi por causa do 25 de Abril que comprei pela primeira vez um televisor, para poder ver as notícias. Até aí, não havia nada de interessante na televisão".
"Dias fantásticos" esses, com "pessoas aliviadas, contentes e cheias de expectativas". Nos primeiros tempos, a agora professora catedrática reformada, que ganhou maior visibilidade pública ao assumir o leme da Capital Europeia da Cultura, em 2001, vibrou com a agitação: "Tinha uma filha com cinco meses e lembro-me de a ir pôr a casa dos avós, para podermos ir para a rua".
De abril a agosto, foram tempos mágicos, alegres, inspiradores. Ainda antes dos excessos, "a atividade era muita, mas interessante: havia reuniões com os alunos, reuniões com os colegas... todos participavam".
Depois disso, a ida para Inglaterra. Outro tempo, comunicações difíceis e caras, informação a circular muito lentamente. Valia aos estudantes emigrados o "Expresso", que aparecia na biblioteca da Universidade, talvez com uma semana de atraso. As notícias, a noção de tempos turbulentos, mas nada que fizesse prever a sensação de chegar a um país diferente, nas primeiras férias, em pleno "verão quente" de 1975: "Encontrámos duas coisas espantosas: a confusão era muito clara, e toda a gente estava zangada com toda a gente".
O regresso definitivo foi em 1979. "Estava tudo mais calmo, mas as zangas continuaram". Tudo melhorou, é evidente, incluindo na Universidade. Porém, os tempos deixaram de ser risonhos: "Em Portugal, a investigação científica praticamente não existia. Havia muito a recuperar, pelo que era preciso andar depressa, de forma sustentada, o que deixou de acontecer".