Mário Rui, que foi o doente do Mundo mais tempo ligado a ECMO devido à covid-19, sonha em voltar ao trabalho.
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Há dois anos, a covid-19 virou a vida de Mário Rui Ribeiro do avesso. Era um homem "ativo" e "saudável", mas a doença atirou-o para uma cama nos Cuidados Intensivos do Hospital de S. João, no Porto. Teve de ser ligado a ECMO (a máquina que substituiu os pulmões e o coração) e foi o doente no Mundo que mais tempo esteve preso ao dispositivo. Há um ano, regressou a casa. A recuperação continuou e, em fevereiro, já tinha trocado o andarilho pelas muletas. Mas, há duas semanas, uma queda na sala ditou-lhe o regresso à cadeira de rodas. A luta diária é movida pelo sonho e pela saudade de voltar a trabalhar e de passear com a família. Vive um dia de cada vez.
Devido à recente queda, Mário Rui, de 55 anos, partiu o fémur. Foi operado, retirou os agrafos anteontem e volta, agora, à fisioterapia. "Vou tentar recuperar e não perder o que conquistei até agora", contou ao JN.
A vida de Mário Rui está em suspenso há dois anos, desde que lhe foi diagnosticada a covid-19, em março de 2020. Passou meio ano internado no Hospital de S. João, cinco meses ligado a ECMO, quatro dos quais em coma. Seguiram-se os internamentos no Hospital de Valongo e no Centro de Reabilitação do Norte. E é com gratidão que fala dos profissionais de saúde que o cuidaram.
"Tenho tido muita sorte com os médicos, enfermeiros, assistentes e fisioterapeutas. Houve um médico que prometeu que, se eu sobrevivesse, ia a Fátima a pé. Apostaram muito em mim. Devo-lhes a vida. Nunca desistiram", frisou.
"Foi um milagre"
Recorda o dia em que testou positivo e como ficou isolado em casa até começar a sentir dificuldades em respirar. Foi encaminhado para o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, onde o colocaram em coma. Antes disso, recorda-se de brincar com o anestesista: "Vai pôr-me a dormir, mas depois vai acordar-me". O resto soube quando acordou, já no Hospital de S. João.
"Foi um milagre ter sobrevivido. Pelo que vim a saber depois, estive várias vezes a morrer", recordou.
Do que lhe contaram, há ainda três coisas que nunca vai esquecer: enquanto esteve em coma, o FCP ganhou o campeonato, a apresentadora Cristina Ferreira mudou-se para a TVI e o ator Pedro Lima suicidou-se.
Com os olhos postos no futuro, Mário Rui confessa ter saudades de trabalhar. É técnico comercial de uma empresa em Santo Tirso. Voltar a passear em família é outro objetivo.