Novo programa do Centro de Reabilitação Profissional de Gaia arranca este mês e chega a todo o país.
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Após perceber que existem "quadros complexos de sequelas que têm impactos muito visíveis na vida das pessoas" que contraíram covid-19, o Centro de Reabilitação Profissional de Gaia (CRPG) começou a delinear uma resposta de apoio no regresso ao trabalho direcionada para pessoas em idade ativa que registam complicações após a alta da doença.
"Para nós, era importante ter uma resposta que ajudasse estas pessoas, o mais rapidamente possível, a reverter ou a lidar com as sequelas e, ao mesmo tempo, a ativá-las para voltar ao trabalho", disse ao JN o diretor do CRPG, Jerónimo Sousa. "Há cerca de dois meses", quando o centro começou a gizar o programa Retorno pós-Covid , em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, "8% da população portuguesa tinha sido afetada pelo vírus, e 70% destas pessoas estavam em idade ativa", lembrou.
Serviço público
Sandra Brás, internista do Hospital Santa Maria, em Lisboa, foi dos profissionais de saúde que participaram na apresentação do projeto Retorno pós-Covid, e aplaudiu a iniciativa. "É fundamental; é serviço público", destacou. "Dois terços dos meus doentes estão em idade profissional ativa e, se não seguirmos estes doentes, corremos o risco de ter uma taxa de absentismo enorme", alertou a médica que, desde março de 2020, coordena uma das unidades de internamento de doentes covid-19 do hospital.
Além de algumas sequelas decorrentes da pneumonia, Sandra Brás identificou, em utentes recuperados de covid, sintomas como "dores articulares e musculares" e "cansaço absolutamente desproporcional face à atividade física em doentes que não tiveram doença crítica". E recorda um ex-doente que "pediu a reforma aos 52 anos, devido às sequelas graves com que ficou".
A jornalista Marta Rangel, que, aos 39 anos e grávida de 17 semanas, foi parar aos Cuidados Intensivos com covid, partilhou as limitações que sentiu após a alta. "Não é uma gripe, não tem nada a ver", disse. "Se tivesse regressado ao trabalho, iria ter muitas dificuldades, porque a covid foi bastante incapacitante", testemunhou, revelando que está apenas com "40% da capacidade muscular" e que, nos primeiros dois meses, "sentia falta de ar ao dar uma volta ao quarteirão". "Esta iniciativa de Retorno pós-Covid é muito importante e é um complemento muito grande ao trabalho que tem vindo a ser feito, do lado da formação, pelo IEFP", realçou o secretário de Estado Adjunto, do Trabalho e da Formação Profissional, Miguel Cabrita.
Em duas fases
Apresentado na sexta-feira, o projeto arranca em duas fases. A primeira, começa este mês, consiste em ações online à distância, com a duração de 75 horas, para utentes de todo o país.
A partir de setembro, as ações serão presenciais e decorrerão em quatro polos: em Gaia, Coimbra, Lisboa e Faro, com equipas técnicas multidisciplinares. A intervenção será dirigida a "pessoas que tenham quadros mais complexos de sequelas e que precisem de uma resposta mais estruturada e robusta", explicou o diretor do CRPG.
SABER MAIS
Multidisciplinar
Equipas multidisciplinares de cinco profissionais, em áreas que vão da psicologia à fisioterapia, vão integrar cada um dos quatro polos do CRPG do programa Retorno pós-Covid.
Gratuito
A resposta é gratuita e dirigida a pessoas em idade ativa, empregadas ou desempregadas, e residentes no continente. Mais informações no site do CRPG, em crpg.pt/covid.