Um cartão vermelho ao governo, mais investimento em regadio e na captação de água, uma alimentação que usa demasiadas embalagens e não paga o suficiente a quem produz, margens de lucro da distribuição que fazem galopar os preços. É assim que os portugueses veem o estado da agricultura em Portugal.
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As conclusões do inquérito realizado pela Universidade Católica foram apresentadas, este sábado, pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), durante a visita do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à Feira Nacional de Agricultura, a decorrer até 11 de junho, em Santarém.
Dos 991 inquiridos, 67% avaliam como "mau" e "muito mau" o trabalho do governo no que diz respeito à agricultura, alimentação e preços dos alimentos e consideram justas (89%) as reivindicações do setor. Quase dois terços entendem ainda que os apoios do governo (nomeadamente o IVA 0 num cabaz de bens essenciais) não resultaram em produtos mais baratos nas prateleiras do supermercado.
Os portugueses querem o reforço de competências do Ministério da Agricultura e da Alimentação, que devia tutelar áreas como as florestas e a utilização de água.
"Nos últimos anos, temos assistido a uma clara desvalorização política da pasta da agricultura, consumada no esvaziamento progressivo das competências do Ministério, ao mesmo tempo que assistimos ao empobrecimento do discurso público em torno do setor agrícola. Existe uma dissonância entre a relevância que este setor tem para a opinião pública e aquela que lhe é conferida pelo governo.", afirma Luís Mira, o secretário-geral da CAP, a propósito do inquérito "A opinião dos portugueses sobre a Agricultura nacional", que aquela confederação encomendou à Universidade Católica.
Alimentação com demasiadas embalagens e mal paga
87% dos inquiridos querem mais regadio no Alentejo e apontam a necessidade de haver mais investimento em captação de água para a agricultura. Consideram que a Barragem do Alqueva "valeu a pena" e deu um contributo muito relevante, não só à agricultura, mas também ao turismo e à produção energética.
No que toca aos alimentos, a perceção é de que temos uma alimentação "segura, nutritiva e saudável", mas que usa demasiadas embalagens, paga mal a quem nela trabalha e não é rentável para os produtores.
Já quanto aos preços ao consumidor, a culpa do aumento é, em primeiro lugar, das margens de lucro da distribuição (40%), seguida da subida dos fatores de produção como efeito da guerra na Ucrânia (34%) e dos impostos cobrados pelo Estado, através do IVA (22%). Quase dois terços dos inquiridos (62%) entende que o cabaz de alimentos com IVA zero e os apoios do governo à produção não trouxe produtos mais baratos.
"Felizmente, mesmo com o desinvestimento a que tem sido votado pelo poder político, o setor tem-se modernizado e, de facto, existe um consenso generalizado de que a produção nacional tem qualidade, é sustentável, segura e ambientalmente responsável", aponta o secretário-geral da CAP.
"Este estudo é um contributo da CAP para uma discussão pública mais fundamentada sobre o futuro do setor agroflorestal. Os portugueses querem uma agricultura com um peso político reforçado e uma governação política mais forte, com mais investimento, com visão estratégica, que responda a temas fulcrais como a boa gestão dos recursos hídricos", remata Luís Mira.
O inquérito, realizado durante os dias 10 e 19 de abril, ouviu 991 cidadãos portugueses com mais de 18 anos, selecionados aleatoriamente, de norte a sul do país e ilhas.