Investigadores de Porto e Coimbra realizaram estudo em Portugal e concluíram que infetados devem tomar precauções para não transmitir doença aos animais domésticos.
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Cães, gatos e furões fizeram parte do primeiro estudo seroepidemiológico realizado em Portugal, publicado esta semana, na Microorganisms, por investigadores do Porto e Coimbra. As principais conclusões são que "os animais de companhia, especialmente os gatos, são extremamente suscetíveis a ficarem infetados com o vírus SARS-CoV-2 quando os donos têm covid-19", pelo que "devem ser tomadas medidas de proteção especiais nesses casos", explicou, ao JN, Isabel Fidalgo-Carvalho, coautora do estudo.
"Se os donos estiverem em confinamento por estarem infetados ou por suspeita de estarem infetados, devem evitar dormir com os animais, usar sempre máscara, lavar bem as mãos e evitar contactos demasiado próximos", resumiu a investigadora, que sublinhou não terem encontrado qualquer caso de transmissão de animal para humano. "Foram sempre os donos a ter covid-19 primeiro e a transmitir aos animais. A mensagem a reter é que eles são mais vulneráveis que nós", alertou.
Contudo, houve um caso de elevada suspeita de transmissão entre gatos.
"Estudámos um gato cujo dono nunca teve covid-19, mas o gato tinha acesso à rua e, nesse condomínio, havia outros três gatos, que nunca pudemos estudar, que pertenciam a um casal que esteve com covid-19. Como havia lutas e outros contactos entre estes gatos no condomínio, achamos que havia elevada probabilidade de os gatos com donos infetados terem transmitido àquele gato", contou a investigadora.
Mais velhos mais vulneráveis
O estudo baseou-se em 225 colheitas de sangue de 217 animais, recolhidas entre dezembro de 2020 e 8 de maio do ano passado, nos distritos de Braga, onde vivia a maioria dos animais, mas também do Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa. Foram ainda recolhidas amostras nasofaríngeas e retais em alguns animais. Todos os 69 gatos estudados viviam em ambiente familiar, no caso dos cães, 122 tinham família e 26 em abrigos ou canis. Um furão participou no estudo serológico e demonstrou ser o que manteve imunidade após exposição ao vírus durante mais tempo (129 dias).
Foram detetados 15 gatos seropositivos, dos quais sete tinham acesso à rua, e sete cães, dos quais seis com acesso ao exterior. A maioria dos gatos positivos eram fêmeas (nove) com idade entre os 4-7 anos (cinco) ou com mais de oito anos (quatro). No caso dos cães, a maioria também eram fêmeas (60%) com mais de oito anos (três) e com 4-7 anos de idade (dois). Nenhum animal com menos de um ano testou positivo.
"Os gatos são mais suscetíveis aos SARS-CoV-2, porque uma percentagem maior era sintomática e um terço dos infetados morreu ou foi eutanasiado", resumiu a investigadora.
Cuidados adicionais
Entre os sintomas manifestados pelos gatos, os mais frequentes foram os respiratórios, digestivos e neurológicos, bem como a apatia e a falta de apetite. Só um teve febre alta. Um dos cães esteve positivo e assintomático.
"Achamos que o nosso estudo foi importante porque, como foi feito com a cooperação de 15 clínicas veterinárias, num período de elevada incidência da covid-19 entre as pessoas, começou a haver mais consciência de que os animais podiam estar infetados", recordou Isabel Fidalgo-Carvalho.
"No início, todos os gatos positivos que encontrámos foram os que morreram. Depois, os restantes já foram tratados com medicina equivalente à que estava a ser administrada em humanos e sobreviveram", sintetizou.
Isabel Fidalgo-Carvalho é também CEO da empresa Equigerminal, que desenvolveu testes à covid-19 para cães, gatos e cavalos, que serão comercializados no futuro. No momento, como ainda estão a ser recolhidos dados para estudos em curso, a equipa aceita e testa, gratuitamente, "amostras de animais com suspeita de poderem ter contraído a covid-19, desde que os donos enviem o consentimento informado para participação no estudo".