Rastreio está implementado em 68% dos hospitais. Intervenção só chega a 25% das cerca de duas mil crianças com problemas de nutrição, revela relatório do SNS.
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Mais de 17 mil adultos e mais de duas mil crianças e jovens, internados em 2020 nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), apresentaram risco nutricional. Entre os adultos, mais de metade (51%) foram sujeitos a uma intervenção para melhorar o estado nutricional, mas nos mais novos as medidas preconizadas só chegaram a um quarto dos doentes.
A identificação do risco nutricional dos doentes internados está prevista na lei desde 2018. O objetivo é identificar quem tem probabilidade de desenvolver desnutrição, uma condição que prejudica a recuperação e está associada a internamentos mais longos e a maior risco de complicações, com o consequente aumento de custos por doente.
No ano passado, 68% dos hospitais tinham implementado o rastreio nutricional, sendo que cerca de 46% tinham aquela avaliação generalizada a todo o hospital, revela o relatório de Acesso a Cuidados de Saúde nos Estabelecimentos do SNS e Entidades Convencionadas de 2020.
O número de doentes submetidos ao rastreio nutricional até às primeiras 48 horas após a admissão aumentou para os 74 mil (mais 26 mil do que em 2019), o que representa 27% dos doentes admitidos entre janeiro e agosto do ano passado. No universo dos rastreados, 17 167 estavam em risco nutricional, dos quais 8774 foram sujeitos a intervenção. Na idade pediátrica (menos de 18 anos) foram identificados 2184 doentes em risco e tratados 546.
Pandemia reduziu acesso
O último relatório anual de acesso põe em evidência o enorme impacto da covid-19 nos cuidados primários e hospitalares, designadamente nas consultas, cirurgias, bem como nos rastreios oncológicos e programas prioritários de saúde. Nos centros de saúde, houve menos 38,5% de consultas médicas presenciais face ao ano anterior e nos hospitais realizaram-se menos 16% de consultas externas e menos 125 mil cirurgias (quebra de 18%). Os tempos de espera dilataram e o número de doentes que, a 30 de dezembro de 2020, aguardavam para lá dos limites máximos recomendados disparou - totalizando 38% nas cirurgias e 40% nas consultas.
A pandemia afetou também o acesso dos doentes a consultas de cessação tabágica (menos 52% de primeiras consultas e menos 39% do total de consultas realizadas para acabar com a dependência) e prejudicou o acesso ao dentista nos centros de saúde (menos 36% de utentes beneficiaram de cuidados de saúde oral face a 2019).
A deteção de casos de doença pulmonar obstrutiva Crónica (DPOC) nos centros de saúde também ficou prejudicada, já que implica o recurso a espirometria, que foi suspensa por ser geradora de aerossóis.
O relatório dedica um capítulo à resposta do SNS à covid-19, no qual destaca o reforço de meios humanos (mais 9193 profissionais face a 2019) e materiais (camas de Cuidados Intensivos, ventiladores, entre outros) e a estratégia de vacinação.