João Abilheira, do alto dos seus 81 anos, recorda os seus tempos de motorista de autocarros em Barcelos e considera que as pessoas nesses tempos pareciam "mais alegres e mais serenas". Já a filha, Carla, de 30 anos, acha que a cidade até "tem crescido de forma sustentável", mas gostava de ver "uma aposta mais forte na parte cultural".
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João Abilheira recorda com saudade o tempo em que era motorista de autocarros. Contactava diariamente com centenas de pessoas e, ao longo do tempo, foi notando a mudança no estilo de vida da população barcelense.
"Antigamente convivia-se mais. As pessoas pareciam mais alegres e também mais serenas. Hoje em dia, vivem a mil, estão sempre stressadas e fechadas no mundo delas", observa o octogenário.
A cidade cresceu - "há prédios em todo o lado" - e a rede viária acompanhou o crescimento. Para o ex-motorista, que conhece as estradas do concelho como poucos, o salto qualitativo foi dado após o 25 de Abril de 1974. "Antigamente, as estradas eram más, cheias de buracos e em algumas só passava um carro de bois", revela.
Hipermercados, serviços indispensáveis e falta de estacionamento em dias de feira
Já a filha, Carla Abilheira, administrativa de profissão, gosta da tranquilidade e da segurança que Barcelos lhe dá. Tal como o pai, João Abilheira, tem visto a cidade expandir-se "de forma sustentável". E sublinha que a construção de novos prédios tem feito com que a zona urbana cresça acompanhada pelo aumento do "número de hipermercados e de outros serviços indispensáveis".
É ao trânsito e à mobilidade que João aponta os maiores defeitos da sua cidade, sobretudo a falta de estacionamento em dias de feira. "É um problema, já que é no campo da feira que a maioria das pessoas habitualmente estacionam", diz.
Carla já não conheceu as estradas degradadas a que o pai faz referência e destaca até a proximidade de Barcelos com três capitais de distrito, Porto, Braga ou Viana do Castelo, o que é um ponto de atração, mas pode, também, ter um efeito perverso.
Barcelos podia ser uma cidade mais ativa e podia aproveitar melhor as riquezas que tem, como, por exemplo, o rio Cávado
"Muitas pessoas acabam por fugir para esses grandes centros urbanos e isso pode ser um problema para a nossa economia local", observa.
João, que antes da pandemia da covid-19 não dispensava um passeio pelo centro, adora viver em Barcelos, porque "conseguiu preservar a história e, ao mesmo tempo, crescer". Ainda assim, nota a falta de gente nova na cidade. "Quando havia o cinema e a discoteca, não faltava juventude", remata.
Uma lacuna quiçá relacionada com outros fatores, como observa a filha, que assume gostar de viver na terra do galo, mas diz que ainda há muito para fazer em prol dos cidadãos. "Barcelos podia ser uma cidade mais ativa e podia aproveitar melhor as riquezas que tem, como, por exemplo, o rio Cávado", lamenta.
Além disso, considera que deveria "haver uma aposta mais forte na parte cultural", acompanhada pela criação de uma "sala de espetáculos maior", já que o Teatro Gil Vicente tem uma lotação inferior a 200 lugares.