Adelino Martins, reformado de 74 anos, recorda os tempos difíceis da infância passada na ilha ode nasceu nas Fontainhas, mas destaca o "espírito de comunidade" desse Porto antigo. Já Júlia Maciel, de 21 anos, brasileira que chegou à Invicta há três anos, confessa que foi amor à primeira vista, mas já nota uma diferença desde o dia em que aterrou na cidade: o "trânsito confuso".
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Adelino Martins, 74 anos, nasceu e cresceu no coração do Porto tradicional, nas Fontainhas. Um lugar único que escondia misérias entretanto eliminadas do mapa. "Vivia numa ilha com 70 habitações e apenas cinco casas de banho comuns", lembra a propósito desses tempos difíceis.
Júlia Maciel, com idade para ser neta de Adelino, chegou ao Porto há apenas três anos, para estudar jornalismo na Faculdade de Letras, mas já sente a cidade como sua. Brasileira de Natal, no estado do Rio Grande do Norte, a jovem de 21 anos fala como se tivesse passado a vida toda em Portugal. "O Porto fez-me sentir em casa, é muito aconchegante. Tem praias, áreas verdes, pessoas afáveis. A única diferença em relação ao Brasil é o clima", diz.
Do Porto de outros tempos, Adelino Martins lembra que faltavam condições, mas sobrava, porém, uma solidariedade imensa: "As pessoas ajudavam-se entre elas, não deixavam que faltasse nada ao vizinho. O sentido de comunidade era muito mais acentuado do que hoje".
O Porto de agora é mais culto, mas menos autêntico. Parece que as pessoas não o sabem defender como se fosse seu
Adelino vive no Bairro do Cerco do Porto e considera-se um tripeiro de gema. "A gente da minha idade lembra-se do antigamente e sente saudades. O Porto de agora é mais culto, mas menos autêntico. Parece que as pessoas não o sabem defender como se fosse seu, que é realmente", entende.
Viu a cidade crescer, viu os turistas chegarem em massa, viu muita coisa a acontecer em sete décadas de vida. "A rede de transportes melhorou substancialmente, sobretudo com o metro. E em termos de habitação não há comparação possível, as casas têm outras condições."
O contraste chega pela confissão de Júlia que, quando olha para trás, já encontra diferenças no Porto que a viu chegar. "O trânsito hoje está muito mais complicado. É difícil circular", aponta. Outro senão "é o preço da habitação", o que torna "complicado" encontrar casa. "Mas há muitas construções novas, sinal que os valores poderão baixar em breve", sublinha.
O Porto sabe acolher, sinto-me perfeitamente integrada
Vinda de uma realidade complexa, Júlia encontrou o que não tinha no país de origem: "Sinto-me completamente segura na rua". Um Porto que procura conhecer o mais que pode e onde frequenta restaurantes sempre que possível. "Só é pena que, apesar da imensa oferta, a variedade dos menus seja pouca". De resto, a cidade entrou-lhe no coração e dificilmente de lá sairá.
E a jovem estudante termina com uma alusão ao lado humano que encontrou: "As pessoas são muito amigáveis, embora possa parecer que se afastam de quem vem de fora. Mas o Porto sabe acolher, sinto-me perfeitamente integrada".