É "incompreensível" que ministra demore tanto tempo a falar da fuga, critica Oposição
Mais de três dias depois da fuga da prisão de Vale de Judeus, a ministra da Justiça quebra o silêncio esta terça-feira, às 17 horas. Da Esquerda à Direita, a Oposição lembrou que Rita Júdice tem a "responsabilidade política" do caso e que, como tal, a demora em dar explicações é "incompreensível".
Corpo do artigo
Vários partidos denunciaram a escassez de guardas prisionais e as más condições de segurança das prisões. Essa visão foi validada pelo ministro da Presidência, António Leitão Amaro, que descreveu a evasão de cinco reclusos como "preocupante e delicada", reconhecendo ainda que ela resultou do "desinvestimento" nos serviços prisionais.
PS, Chega e IL querem ouvir no Parlamento a ministra da Justiça e o diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa. Ao que o JN apurou, as restantes forças da Oposição não irão opor-se. Há ainda pedidos para ouvir outras personalidades, como as anteriores ministras da Justiça, Catarina Sarmento e Castro e Francisca Van Dunem.
Ao JN, a deputada Cláudia Santos, do PS, disse ser "cedo para fazer juízos de responsabilidade" no que toca à fuga. Embora frisando que, para já, a "prioridade" é a captura "célere" dos evadidos, recordou que é o Governo que responde politicamente por este "incidente grave".
Nesse sentido, a socialista entende que a ministra da Justiça já deveria ter dado algumas explicações, nomeadamente sobre a razão pela qual a prisão de Vale de Judeus "se manteve sem diretor durante tanto tempo" – sobretudo quando o Governo foi "tão rápido" a mudar outras lideranças. Acrescentou que o facto de o alarme não ter sido dado de imediato mostra que há presos perigosos "que não são controlados durante muito tempo".
Questionada sobre se há um problema estrutural nas prisões, Cláudia Santos disse ser tempo de uma "reflexão mais profunda" sobre o sistema prisional. Vincou que, entre 2019 e 2020, o Governo PS gastou 1,5 milhões de euros na vigilância das prisões.
Da ministra que parece "de férias" aos problemas que persistem
O líder do Chega, André Ventura, falou num "falhanço que envergonha Portugal". Considerou que a ministra da Justiça "parece de férias” e disse que, para o Governo "parece que não existiu nada". A este propósito, exigiu "uma palavra" do primeiro-ministro. Apontou ainda baterias ao diretor-geral dos serviços prisionais, frisando que este "sabe há anos" que são precisos mais guardas.
Logo no domingo ao fim da tarde, o líder da IL, Rui Rocha, pediu a audiência "urgente" da ministra Rita Júdice. Frisando que as circunstâncias da fuga "parecem perturbadoras", o liberal sustentou que, mais do que apontar o dedo a este Governo ou ao anterior, importa "esclarecer o que correu mal" e o que se pode fazer para que esta situação não se repita. Considerou ainda que Rui Abrunhosa deve deixar o cargo de diretor-geral das prisões.
À Esquerda, a líder do BE também instou a ministra a falar, uma vez que "o silêncio nunca é bem recebido". Mariana Mortágua denunciou também a escassez de guardas e o facto de, "há anos", haver relatórios internacionais que denunciam as condições dos presos portugueses.
Ao JN, o deputado António Filipe, do PCP, disse ser "incompreensível" que a ministra não tenha dito "uma palavra" sobre a fuga. Referiu que a falta de guardas e as deficiências nas instalações prisionais não são "uma questão nova", lembrando que os comunistas denunciam o caso de Vale de Judeus desde 2009.
Também o Livre denuncia a "degradação de infraestruturas e escassez de recursos humanos". Ao JN, fonte do partido disse que, embora seja "positivo" que a ministra não fale de forma "precipitada", também não pode ficar em silêncio "tantas horas depois do que sucedeu". O PAN acusou o Governo de "inércia".