Iniciativa “Erasmus Campus” junta em Marvão 30 jovens lusodescendentes e portugueses, desafiando-os a refletir sobre o que é viver em democracia e recordando o que foi a ditadura. O programa decorre até domingo, com foco na educação e no pluralismo.
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Desde filmes censurados, textos cortados pelo lápis azul, a uma geração que se ergueu contra o regime, descontente por ver irmãos e amigos a partirem para a guerra. Hoje – Dia Internacional da Democracia – 30 jovens portugueses e lusodescendentes, participantes na iniciativa “Erasmus Campus” puderam ouvir, na primeira pessoa, histórias de quem cresceu em ditadura e fez-lhe frente para que, também eles, possam levar os valores da democracia para as suas casas, escolas e universidades.
Na antiga estação ferroviária de Marvão-Beirão, a tarde foi de memória. Sob o lema “#NãoPodias expressar-te”, os historiadores Irene Pimentel e José Pacheco Pereira partilharam com os jovens como eram as suas vidas antes da democracia, deixando-lhes a semente para que sejam cidadãos ativos.
Salientando que os 48 anos de ditadura impediram “toda uma geração de ter memória do passado”, o historiador depositou nos jovens a esperança de que possam lembrar a ditadura para que nunca mais se venha a cair nos mesmos erros.
Este “bootcamp” da democracia – organizado pela Agência Nacional Erasmus+ Educação e Formação (ANE+ EF), em parceria com a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril –, quer capacitar os jovens para a importância da participação democrática e cidadania ativa numa altura em que se contam os meses para o 50.º aniversário da revolução e para que os europeus voltem às urnas em junho de 2024.
Divulgar a história
“Só vejo uma forma para não haver rutura da memória: é fazer a história e divulgá-la”, lançou a historiadora aos jovens.
E a ideia é que multipliquem essa mensagem. “O que foi a participação democrática em 74 e 75? Será que nós, em 2023, nos envolvemos da mesma forma e não teríamos a obrigação de o fazer? Iniciativas como esta pretendem precisamente, não só refletir sobre o passado, como pensar o futuro e o nosso envolvimento na atual prática democrática”, resume Maria Inácia Rezóla, comissária executiva da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril, presente na sessão.
A responsável salientou, por isso, que os jovens “são pilares centrais” para alterar os “valores da abstenção eleitoral tão desoladores”.
“Viver em democracia é permitir que este diálogo constante aconteça, conseguirmos encontrar um consenso, apesar da pluralidade de perspetivas e termos um sentido de construção de país, de sociedade, em conjunto”, partilhou Bernardo Rebelo e Silva. O jovem de 27 anos já esteve emigrado na Bélgica. Agora acredita que o seu futuro passa por Portugal e espera que os jovens possam ter “um emprego digno e um bom salário”.
Medidas são curtas
Bernardo receia, por isso, que os “passos de bebé” traçados no pacote de medidas para os jovens que o Governo apresentou não façam parte de um plano maior. “Sinto que não há uma preocupação a médio e longo”, lamentou.
Dylan Pereira veio de Caracas, na Venezuela, e espera levar para casa uma bagagem cheia de ferramentas para poder melhorar a situação do seu país. O jovem de 22 anos é um dos três lusodescendentes a participar.
“É uma ocasião extraordinária uma vez que estamos a comemorar os 50 anos do 25 de Abril, um grande arquétipo de transição democrática para o mundo inteiro. É esse o espírito de cooperação e reconciliação que creio ser importante que nós, venezuelanos, próximos de uma eleição presidencial e também das legislativas, temos de tentar empenhar”. "Gosto de olhar para a democraria como um grande ideal inacabado, porque podemos sempre melhorar", afirmou o jovem.
A iniciativa decorre até domingo, com foco na educação e no pluralismo, com a presença dos ministros da Educação e do Ensino Superior e Pedro Lauret, capitão de Abril.