O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) considera "prematuro" classificar a variante ómicron do SARS-CoV-2 como menos grave, bem como a "última variante de sucesso", dando ainda como "altamente incerto" que garanta a imunidade coletiva.
Corpo do artigo
"É ainda prematuro fazer uma avaliação completa da gravidade da ómicron e são necessários mais dados/estudos de investigação", afirma o ECDC, numa resposta escrita enviada à agência Lusa.
A agência europeia de aconselhamento aos países ressalva que "a acumulação de resultados clínicos leva geralmente várias semanas a concluir sobre o impacto de uma variante específica nas admissões hospitalares, necessidade de cuidados intensivos e mortes", contextualizando que "a imunidade prévia à infeção natural e/ou vacinação e melhores opções de tratamento contribuirão para resultados menos graves da infeção subsequente".
14468024
Isto significa, segundo o centro europeu, que "o verdadeiro risco de infeção grave pode ser subestimado pelo grande número de pessoas vacinadas ou anteriormente infetadas, o que não era o caso no início das vagas precedentes" causadas por variantes do SARS-CoV-2 anteriores como a Beta (identificada no Reino Unido) ou a Delta (detetada na Índia). "É também essencial ter em conta a idade relativamente jovem da maioria das pessoas que foram infetadas com a ómicron até à data", salvaguarda também o ECDC, aludindo aos contágios pela variante identificada inicialmente na África do Sul.
14461174
Para os especialistas desta agência europeia, "os primeiros resultados podem não representar toda a vaga [atual] e o perfil clínico da ómicron pode mudar com as próximas provas".
Além disso, estes responsáveis avisam que "a combinação de uma maior taxa de crescimento e evasão imunitária indica que qualquer vantagem que a ómicron possa oferecer em termos de gravidade pode ser ultrapassada pelo aumento das taxas de infeção da comunidade, levando a uma carga substancialmente adicional para os hospitais, enquanto que os cuidados primários podem ser sobrecarregados ainda mais do que durante as vagas anteriores".
"À medida que se acumulam mais provas, a avaliação dos resultados clínicos e das consequências a longo prazo, tais como a condição pós-covid-19, será viável", adiantam.
Questionado sobre a posição de alguns especialistas que veem a ómicron como um caminho para o controlo da pandemia, com imunidade coletiva, o ECDC diz à Lusa que "não existem provas nem razões para supor que esta será a última variante de sucesso do SARS-CoV-2, nem que a imunidade da população adquirida através da infeção e vacinação será suficiente para proteger contra a transmissão ampla de uma possível nova variante evadindo a imunidade contra as variantes dominantes anteriores".
"Embora a imunidade adquirida anteriormente pareça conferir proteção contra doenças graves, é altamente incerto se esta se irá manter contra futuras variantes altamente transmissíveis", afirma ainda este centro europeu à Lusa.
A posição do ECDC surge numa altura de elevado ressurgimento de casos por infeção com o SARS-CoV-2, que ainda assim não se traduz em mais internamentos ou mortes. Isso também se deve à cobertura vacinal, que é de 68,5% para a população total na União Europeia e de 79,9% para os adultos europeus, de acordo com dados do ECDC. A contribuir para o elevado número de casos, que batem máximos, está a elevada transmissibilidade da variante.
Não recomenda menor tempo de isolamento para não vacinados
A agência europeia não recomenda menos tempo de isolamento para não vacinados anticovid-19, mas admite-o para os inoculados, embora avisando que, quanto mais curto for este período, maior o "risco residual".
"O ECDC está atualmente a rever as orientações de isolamento para casos de covid-19 e a fazer uma análise mais especializada da literatura disponível sobre carga viral e alívio [do isolamento]. Para indivíduos não vacinados contra a covid-19, não existem provas que permitam diminuir o período de isolamento", considera a agência europeia, numa resposta escrita enviada à agência Lusa.
A posição surge depois de, na passada quarta-feira, a Direção-Geral da Saúde ter atualizado as normas que reduzem o período de isolamento para as pessoas assintomáticas que testam positivo e têm doença ligeira bem como para os contactos de alto risco, reduzindo de 10 para sete dias o período de isolamento.
Dias antes, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos recomendou a redução do período de isolamento para casos positivos de covid-19 de 10 para cinco dias, sendo que, após esse tempo e por mais cinco dias, as pessoas devem cumprir medidas como uso obrigatório de máscara quando em contacto com outros.
Questionado sobre esta redução do período de isolamento, o ECDC reconhece que, "em situações de elevado ónus [para os países], poderá ser necessária uma abordagem mais pragmática na qual sejam tidas em conta considerações adicionais, especialmente no que diz respeito aos trabalhadores essenciais", mostrando-se assim favorável a uma redução para os vacinados contra a covid-19.
Ainda assim, a agência europeia avisa que, "ao decidir sobre orientações de isolamento reduzidas, os Estados-membros [da União Europeia] devem ter em conta a situação epidemiológica local, a capacidade de teste do cenário e os efeitos socioeconómicos da pandemia no cenário específico".
"Como regra, quanto mais curto for o período de isolamento, maior será o risco residual, pelo que a redução do período de isolamento requer um equilíbrio de probabilidades e uma decisão sobre quanto risco residual de transmissão se está disposto a aceitar", avisa esta agência europeia de aconselhamento aos países.