
Livro do jornalista David Dinis analisa cenário em que André Ventura se torna primeiro-ministro
Foto: José Coelho/Lusa
"Era dia de eleições - mais umas, naquela série de legislativas antecipadas seguidas (...) Imagine o momento. Aquele em que no ecrã da sua televisão aparecia a imagem do líder radical e as palavras "maioria absoluta" (...) Imagine depois. O líder do partido radical, declarado primeiro-ministro". É assim que arranca o livro do jornalista David Dinis, diretor-adjunto do Expresso. Mas não é um romance, nem uma ficção distópica. É, na verdade, uma análise política sobre um cenário que, há bem poucos anos, nenhum cidadão português seria capaz de imaginar. O dia em que o Chega pode vencer umas eleições e André Ventura chegar a primeiro-ministro.
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Ainda que, como já explicou o autor, o livro não seja exatamente sobre o Chega, é esse partido e o seu líder que concentram as atenções. David Dinis usa, para a sua análise, os exemplos que chegam de vários países europeus, ou dos EUA de Trump. É a soma de vários estilos autoritários, ou iliberais, dos que desprezam as regras democráticas, que lhe permite fazer a tal projeção do que poderá, um dia, vir a ser a realidade política portuguesa. "Ideias que nos podem atropelar a todos e tirar uma parte de uma liberdade que demorou a construir", como disse numa entrevista recente.
O livro é apresentado este sábado, às 17 horas, na Livraria Bertrand, no Shopping Cidade do Porto, pelo também jornalista Manuel Carvalho. Uma obra em que David Dinis explica que a direita radical populista (a do Chega ou a de partidos congéneres europeus e ocidentais) "não é um movimento político igual aos outros" e que "as consequências da sua chegada ao poder também são mais difíceis de digerir ou de reverter", do que no caso de outros partidos, por mais radicais que por vezes nos pareçam.
"O livro não pretende dizer que vem aí o diabo", como já argumentou David Dinis, antes pretende "alertar consciências" e explicar que é "possível proteger alguma coisa enquanto é tempo". Isto porque o autor entende que já não está apenas "nas mãos dos outros líderes políticos e partidos" evitar esta distopia em que a realidade pode bem ultrapassar a ficção. Aliás, e no final do livro, David Dinis volta aos cenários quase ficcionais. "Era dia de eleições e sentia-se aquela tensão no ar (...) Imagine o momento, aquele em que no ecrã da televisão aparecem as palavras "presidente eleito". Justo a estas, o rosto, com riso ameaçador, do líder radical". Por falar nisso, há eleições presidenciais marcadas para 18 de janeiro. Um dos candidatos é André Ventura. Talvez seja um bom mote para a discussão deste sábado, no Porto.

