Capicua defendeu, esta terça-feira à tarde, que os pais e os professores não conseguem sozinhos desconstruir o patriarcado. Pede aos artistas para não se demitirem do seu trabalho.
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A rapper Capicua afirmou ser necessário financiamento público para garantir a representatividade na cultura, nomeadamente uma maior presença de mulheres nos cartazes dos festivais de música. A rapper foi a convidada da oitava sessão das “Conversas de Café”, que decorreu esta terça-feira no Café Velasquez, no Porto.
“Há uma subrepresentação das minorias e das mulheres nas programações dos festivais de música e dos auditórios municipais”, referiu Capicua. Para além dos cartazes maioritariamente masculinos, a artista disse ter um “palpite de haver um gap [diferença] enorme também nos cachets” entre homens e mulheres.
Questionada por um elemento do público a deixar uma sugestão sobre o que fazer para resolver a falta de paridade, Capicua defendeu que parte da resolução pode vir da “exigência do público” e da “sensibilidade dos programadores”. A artista destacou o bom exemplo do festival Primavera Sound, que tem regras definidas para uma representação significativa de mulheres nos cartazes.
“Sou muito a favor de misturar públicos. É um problema que tive na minha carreira: convidavam-me muito para conferências só com mulheres. Faz sentido para criar ruído relativamente à falta da representatividade, mas é muito mais útil ocupar o espaço onde estão os públicos”, afirmou.
Educados pelo TikTok
Numa conversa coordenada pelo sociólogo Augusto Santos Silva, Capicua deixou uma reflexão sobre masculinidade tóxica, a proliferação da extrema-direita, a violência contra as mulheres e o papel que os rappers devem ter na influência dos mais jovens (e não só) contra a misoginia.
Capicua salientou que há crianças a ser “educadas pelo TikTok” e a receber “conceitos ideológicos” como se fosse informação. Para a artista, os pais e os professores “não podem sozinhos” educar para a igualdade de género, sem que os influenciadores dos filhos, como os rappers, tenham também um papel ativo na “desconstrução do patriarcado”. “Não nos podemos demitir do nosso trabalho”, disse.
As “Conversas de Café” voltam após as legislativas. A iniciativa do JN tem o apoio da Faculdade de Economia da Universidade do Porto e conta com o patrocínio da Torre dos Clérigos.