Em Portugal quase não há mulheres a trabalhar em eletricidade, eletrónica e construção
Em Portugal praticamente não há mulheres com profissões qualificadas em eletricidade, eletrónica ou na construção, mantendo-se na última década os estereótipos que acabam por moldar as opções educativas de rapazes e raparigas, segundo dados a que a Lusa teve acesso.
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Dos trabalhadores qualificados da construção e similares, exceto eletricista, a proporção em 2010 era de 1,29% de mulheres, percentagem que 13 anos depois desceu para 1,26%, segundo os dados recolhidos por alunos do seminário da licenciatura em economia do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), sob orientação da diretora do Observatório Género, Trabalho e Poder, Sara Falcão Casaca, que vão constar do segundo Barómetro da Participação Laboral de Mulheres e Homens.
Dos trabalhadores qualificados em eletricidade e em eletrónica, as mulheres representavam 2,98% desses trabalhadores em 2010, diminuindo para 2,58% em 2023, segundo as estatísticas de Quadros de Pessoal do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e usadas para a investigação.
Para a socióloga Sara Falcão Casaca, em 13 anos, entre 2010 e 2023, registaram-se alterações pontuais na distribuição de mulheres e homens por áreas predominantemente masculina ou feminina, mas manteve-se uma clara segregação e em algumas profissões, como as qualificadas de eletricidade e construção, com representação de mulheres já reduzida, a segregação agravou-se.
Na sua opinião os dados mostram que em 2023 continuou a registar-se grande representação de profissões em que a maioria são homens ou o sexo masculino predomina, não se tendo conseguido superar as conceções estereotipadas, que estão presentes desde logo na socialização e que moldam as opções educativas e formativas de rapazes e raparigas.
Cuidados pessoais, limpeza, saúde e ensino
Segundo o barómetro, as mulheres portuguesas estão particularmente concentradas nas profissões de cuidados pessoais, limpeza, saúde e ensino, sendo a sua presença quase residual entre os trabalhadores da floresta ou da metalurgia.
Em Portugal as mulheres representam 92,4% dos trabalhadores dos cuidados pessoais e similares, 88,2% dos trabalhadores de limpeza, 76,8% dos profissionais de saúde e 76,2% dos professores, segundo dados de 2022 publicados pelo Observatório Género, Trabalho e Poder.
Os números revelam uma representação feminina de 76,6% entre os técnicos e profissionais de nível intermédio da saúde, de 74,8% entre os empregados de escritório, secretários em geral e operadores de processamento de dados e de 71,5% entre os especialistas em assuntos jurídicos, sociais, artísticos e culturais.