Porto, Lisboa, Coimbra, Cascais, Oeiras e Alcochete têm rendimento bruto médio anual de mais de 18 mil euros, mas também são os concelhos onde a taxa de desigualdade salarial é maior.
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Há seis municípios em Portugal onde o salário bruto médio anual é superior em cerca de nove mil euros quando comparado com 94 municípios de baixa densidade que representam 35% do país. No entanto, apesar dos ganhos mais elevados, a desigualdade na distribuição dos rendimentos é maior nos seis territórios considerados "inovadores".
No Porto, Lisboa, Coimbra, Cascais, Oeiras e Alcochete, o rendimento bruto médio anual ronda os 18 mil euros com uma taxa de desigualdade de quase 30%. Já nos territórios de baixa densidade, anualmente, a remuneração média por ano é de 8990 euros.
Os dados constam de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, desenvolvido por investigadores do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE). Intitulado "Territórios de bem-estar: assimetrias nos municípios portugueses", o trabalho será apresentado hoje.
O estudo teve como objetivo aferir como é que "as perceções e vivências de bem-estar são influenciadas por assimetrias nas condições de vida". Para tal, os investigadores agruparam os municípios com características homogéneas em cinco grupos: territórios industriais em transição, territórios intermédios, territórios urbanos em rede, territórios inovadores e territórios de baixa densidade. Para a segmentação foram tidos em conta vários parâmetros, dos quais se destacam a educação, a saúde, a segurança, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e o trabalho digno.
Um país muito desigual
"O estudo confirma que Portugal é muito desigual e que essas desigualdades não têm sido, porventura, enquadradas nas políticas de intervenção, tendo em vista promover a coesão. E as assimetrias que existem não nos permitem concluir que é melhor viver num território do que noutro. Há sempre aspetos bons nos diferentes contextos", referiu ao JN Rosário Mauritti, coordenadora da investigação e professora no ISCTE.
Mas há assimetrias que predominam. No país, em seis municípios, o salário médio bruto anual é de 18 052,5 euros. São eles: Porto, Lisboa, Coimbra, Oeiras, Cascais e Alcochete. Representam 2% do território e 13% da população. Mas a taxa de desigualdade salarial é a mais alta do país (29,5%). No lado oposto, em termos de salários e população, estão os territórios de baixa densidade. Representam 35% dos municípios do país e abrangem apenas 8% da população.
"As desigualdades de rendimentos, mais elevadas nas áreas predominantemente urbanas, comprometem a agenda do trabalho digno, relacionando-se com a precariedade e o desemprego", lê-se na investigação.
No que toca à conjugação da vida familiar e profissional, o estudo conclui que os territórios de baixa densidade "oferecem melhores condições de bem-estar" e "acima da mediana nacional", sendo este indicador "mais problemático" nos territórios inovadores e nos territórios urbanos em rede.
Também na habitação, os territórios de baixa densidade têm "melhores condições de bem-estar, ao proporcionarem habitação acessível e menos sobrelotada". O inverso verifica-se nos territórios inovadores, "deficitários em termos de habitação acessível e com maiores necessidades de habitação social".
Em termos de saúde, "os territórios inovadores usufruem de mais médicos e enfermeiros do que as restantes configurações territoriais". Já no que toca ao número de habitantes por centro de saúde e ao número de farmácias, os cinco clusters apresentam valores semelhantes.
Conclusões
Idosos a residir sozinhos
Segundo o estudo, em mais de 60% dos municípios, um em cada cinco idosos vive sozinho. A investigação mostra ainda que, nos territórios rurais, as redes de apoio social são fundamentais no alívio do isolamento e da pobreza. Nos territórios de baixa densidade, uma das áreas que gera mais emprego é o apoio social.
Segurança
Os municípios classificados como "territórios intermédios" são os que apresentam menor taxa de criminalidade. A situação é mais problemática nos "territórios inovadores".
Participação cívica
Quanto à participação cívica, "os territórios com maior densidade urbana revelam uma maior apatia em relação à política municipal". Por outro lado, os territórios com "laços comunitários mais intensos tendem a manifestar mais apatia na política local".
Cultura
Os municípios do interior, segundo o estudo, são os que mais investem em atividades culturais e recreativas.