Com agosto a chegar, milhares de emigrantes entram de carro em Portugal. Poucos conhecem programa de incentivos do Governo para que voltem de vez.
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Milhares de emigrantes regressaram, sábado, a Portugal para as férias de verão. Após a fronteira imaginária entre Portugal e Espanha, na zona de Chaves, a primeira paragem é para pagar portagem por entrar pela Autoestrada A24. A segunda, finalmente, é em casa da família. A pressa de chegar é tanta que há sempre alguns distraídos aos quais irá ter a fatura a casa.
Não foi o caso de Liliana Quiaios, que chegou sábado à tarde com a filha Quiara, de 16 anos, e o cão cocker Leo. Vieram do Luxemburgo e pararam na portagem. A secretária de 47 anos estava ansiosa para entrar em Lamego, para ver os pais, e depois seguir para a Figueira da Foz. A família estava a contar que chegariam este fim de semana, mas sem saber o dia nem a hora certos. "Se assim fosse, ligariam de dez em dez minutos para ver se está a correr bem a viagem".
O mesmo fez o casal Felisbela e Jorge Martins. "Ninguém sabe que chegamos hoje [ontem]. Assim vimos mais tranquilos e os pais não ficam tão preocupados", adiantam, com o sorriso de quem dentro de pouco mais de uma hora vai estar na terra natal a abraçar os seus.
Saíram de Baiona, no sul de França, para uma viagem de nove horas em direção a Vilarinho, em Santo Tirso. No banco de trás seguem os dois mais novos dos quatro filhos, com idades entre 12 e 25 anos. Aliás, com 48 anos, já têm dois netos.
Quando Manuel Rodrigues, 62 anos, e Maria de Jesus, 59, chegaram ao posto de portagem da A24, já tinha 22 horas de viagem, desde o sul da Alemanha, "com muita chuva e trovoada". Três delas de pausa. Estavam "mortinhos" por chegar a Pousa, aldeia de Barcelos.
Ela faz limpezas. Ele é calceteiro. "Mas não gosto daquilo", confessa ele. Não admira que tenha ido para lá em 2001, regressado em 2007. "Vinha todo contente para ficar em Portugal e passados cinco anos, com a crise, tive de voltar para lá", lamenta.
Regressar? O que é isso?
Do Programa Regressar, que o Governo português criou com várias regalias para incentivar os emigrantes a voltar de vez, têm pouco para dizer. Liliana nem sequer ouviu falar. Mas também assume que não lhe interessa. "Quando uma pessoa está bem como eu, não tem qualquer interesse em voltar". Emigrante há 38 anos, confessa: "Quando venho de férias até já me sinto um pouco perdida em Portugal".
Regressar já nem sequer é hipótese para Felisbela e Jorge. Ela é doméstica e ele trabalha na construção, mas mesmo assim estão "bem melhor lá" do que supõem poder estar aqui. Não obstante ele gostasse de voltar a viver em Portugal. "Mas para isso, o país tinha de mudar muito".