Regressam eufóricos após o jejum de férias imposto pela covid-19. Esperados 30 mil carros este sábado e no domingo em Vilar Formoso.
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Pedro Marques, de 45 anos, a mulher, Catarina, e as três filhas já saíram do Luxemburgo com a ideia fixa de pararem em Vilar Formoso para a primeira refeição em território português. Com a leveza de quem entrou em casa, sentaram-se na esplanada do primeiro restaurante que encontraram, e, mesmo antes do pedido, aceitaram falar do que trouxeram na bagagem.
"Três semanas de férias e muita saudade", atirou Pedro, sem esconder o cansaço de uma viagem de 18 horas e 2000 quilómetros. "Há três anos que não vínhamos a Portugal, porque no ano passado a covid reteve-nos em casa e em 2019 passámos férias em França", completou Catarina, de 40 anos, que há uma década vive e trabalha no país que possui o salário mínimo mais elevado da União Europeia (2201 euros). "A minha filha mais nova já nasceu no Luxemburgo", acrescentou.
Com raízes familiares em Anadia, Bairrada, para onde se dirige, a família de emigrantes parecia aliviada por ter fugido à chuva dos últimos dois meses e às cheias que causaram consternação no país de acolhimento. "Chegar com sol é espetacular", disse, efusivo, Pedro, que verbalizou a angústia destes tempos. "Custou muito ficar longe dos amigos, dos meus pais. Três anos depois, já tinha muitas saudades de Portugal e do mar", disse, agora a caminho do abraço da família e da brisa da praia.
Algarve pode esperar
O momento em que os emigrantes chegam a Vilar Formoso é mágico. E, além dos sorrisos, são as palavras que expressam a alegria de voltar. Já com umas bifanas na mão para não perder tempo e seguir viagem para Ansião, Gracinda Duarte, de 53 anos, emigrante na Suíça, confirmou a pressa de chegar à localidade que deixou há 16 anos. "Estou deserta para chegar a minha casa. Não me faça chorar", disse já com as lágrimas nos olhos, lembrando que tinha à sua espera a mãe e a filha mais velha de 32 anos. "Estive cá no Natal, mas estes tempos foram terríveis. Sempre com medo que alguma coisa lhe pudesse acontecer", reconheceu a emigrante, que chegou a estar infetada com covid e agora regressou ao pais natal com o marido, um gato e um papagaio. "Não quero grandes saídas. Prefiro estar na minha casa e no meu sossego", sentenciou Gracinda.
Mesmo sem festas populares e com as piscinas da freguesia fechadas, Jorge Martins, de 48 anos, não cabe em si de contente por voltar ao concelho de Almeida, à aldeia dos pais, que também foram emigrantes em França. Ao lado da mulher, da filha mais nova e do neto, trouxe 15 dias de férias depois de três anos de jejum. "Gostávamos de ir ao Algarve, mas ficamos por aqui com a família, sem arriscar", disse sem hesitar.
Regresso ao passado
Desde 2019 que não se viam tantos emigrantes de passagem pela mais emblemática entrada no país. Mesmo sem números exatos, a mera observação do tráfego leva o destacamento da GNR da Guarda a concluir que, neste ano, a saudade superou o medo da pandemia e há mais emigrantes a fazerem-se à estrada.
"O movimento dos últimos dias já permite dizer que o mais provável é chegarmos aos números pré-covid, com pelo menos 30 mil viaturas a cruzarem a antiga linha de fronteira neste primeiro fim de semana de agosto", disse ao JN o comandante distrital Luís Cunha Rateiro.