Abstenção diminuiu mas duplo critério das mesas ditou a invalidação de 80% dos votos. PSD diz que lei é "taxativa" e culpa mesas por misturar boletins. PS desistiu de ir ao Constitucional.
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Os desentendimentos entre os partidos e divergências durante a contagem dos votos dos emigrantes fizeram com que mais de 157 mil eleitores vissem o voto anulado - incluindo muitos votos válidos que continham uma cópia do cartão de cidadão.
Representantes das comunidades portuguesas lamentaram a "triste situação", que atribuem à "incompetência" das partes envolvidas e que dita a "falta de representatividade" do eleitorado emigrante. Ao JN, os conselheiros defenderam que a lei é para ser cumprida e deve-se uniformizar o processo.
"Ficamos extremamente desiludidos e dececionados pela forma como este processo decorreu", disse ao JN Rui Barata, conselheiro residente em França. Portugal tem de "facilitar a participação eleitoral dos portugueses no estrangeiro e evitar estes escândalos".
O conselheiro Pedro Rupio, residente na Bélgica, lamentou este episódio. "Podíamos estar a celebrar um feito histórico" - referindo-se ao facto de a participação ter aumentado, com mais de 100 mil votos face a 2019 - e, em vez disso, estamos a falar de "uma situação triste". "Na Europa, há muitos emigrantes que, como eu, se sentem provavelmente frustrados", concluiu.
"Lei é clara e objetiva"
João Verdades, conselheiro residente no Luxemburgo, considera que o "que está na lei é claro e objetivo. O cidadão que vote para a Assembleia da República e que esteja no estrangeiro tem que enviar no subscrito branco uma cópia do cartão do cidadão". "Os votos que entraram [sem cópia da identificação] não deviam ter entrado dentro das urnas", concluiu.
O mesmo defende Rui Barata, que apelou ao cumprimento da lei, e classificou como uma "quase incompetência" a receção e abertura dos votos em Lisboa. "Os partidos não devem decidir se os votos são válidos ou não. As regras são para respeitar", disse, lembrando que "grande maioria" dos votos trazia a cópia.
"Se esta situação acontecesse em Portugal, isto seria escandaloso e talvez estas eleições teriam sido anuladas", acrescentou. Os três conselheiros defendem a alteração da lei eleitoral para facilitar o voto dos emigrantes e resolver problemas antigos, como moradas desatualizadas e boletins que não chegam. Pedro Rupio defende também a revisão dos círculos eleitorais, "até porque neste momento, nos círculos da emigração, quer sejamos 100 a votar ou um milhão, só elegemos dois deputados na Europa", o que diz ser um fator de "desmobilização".
PS e PSD divergem
O PS lamentou a "total falta de respeito" pelos emigrantes mas decidiu não recorrer para o Tribunal Constitucional para não contribuir "mais para o prolongamento deste grave e inútil incidente provocado pelo PSD". Aos jornalistas, Rui Rio, líder do PSD, lamentou a situação, mas afirmou que a lei é "taxativa" e que as mesas não deviam ter "atirado tudo para dentro da urna", misturando os votos, já após o protesto do PSD. Os dois partidos - que elegeram cada um dos deputados - apenas convergem na vontade de rever a lei.