Curso de Engenharia das universidades do Porto e de Trás-os-Montes só teve um candidato na primeira fase de acesso.
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Em Portugal há falta de diplomados na área da floresta, mas nem por isso o interesse dos jovens tem aumentado. Das 67 vagas nos três cursos de licenciatura existentes no país só foram ocupadas 39 e o Norte teve a procura mais baixa, com um único lugar preenchido. Para incentivar a opção, várias empresas do setor vão pagar as propinas a 22 estudantes já neste ano letivo.
Engenharia e Biotecnologia Florestal é o único curso disponível na Região Norte, criado em parceria pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Só despertou o interesse de um aluno na primeira fase de acesso. Ficaram 25 vagas disponíveis para a segunda fase.
Nos cursos florestais, o caso nortenho contrasta com o que se passa na capital. O Instituto Superior de Agronomia de Lisboa preencheu as 21 vagas disponíveis, enquanto a Escola Superior Agrária de Coimbra ocupou 17 dos 20 lugares, sobrando três para a segunda fase.
"Fenómeno inexplicável"
A parceria das universidades do Norte visou disponibilizar "uma licenciatura mais jovem e mais apelativa, com visão territorial e caráter de inovação maior", explica Domingos Lopes, o coordenador do curso pela UTAD. Neste primeiro ano em pleno havia alguma expectativa em relação à procura, mas foi frustrada.
Domingos Lopes fala num "fenómeno inexplicável", pois "tendo Portugal uma ampla faixa do território coberta por floresta" e "existindo uma grande quantidade de pedidos de licenciados na área", não entende porque "não há resposta". Ou seja, "temos dificuldades e desafios e não temos quem os trabalhe".
O desinteresse pode ter duas explicações: "Ou não temos sido capazes de demonstrar a importância do curso ou há uma visão negativa da floresta, muito mais conhecida em altura de incêndios", salienta Domingos Lopes. Outra explicação que o reitor da UTAD, Emídio Gomes, já tinha dado ao JN é o facto de os cursos de Engenharia exigirem o par Física e Matemática e de o número de estudantes do Secundário com este par ser reduzido.
As expectativas estão agora depositadas na segunda fase. Conceição Santos, docente da FCUP, entende a necessidade de mais diplomados na área florestal como uma "mudança de paradigma geracional". Porque é preciso seguir o exemplo dos países do Norte da Europa que apostam numa "produtividade sustentável" da floresta, adotando medidas de "melhoramento tecnológico e genético".
Por outro lado, a investigadora defende que é preciso deixar de olhar a floresta apenas como "uma cultura de árvores" e passar a vê-la como um setor que inclui "turismo, produção de madeira e reciclagem dos seus resíduos".
Empresas pagam propinas a 22 alunos
As empresas Altri Florestal, Corticeira Amorim, Sonae Arauco e The Navigator Company aliaram-se para financiar a 100% o valor das propinas de 22 estudantes que ingressem, já neste ano letivo, em licenciaturas na área da floresta. O objetivo é "estimular o interesse dos potenciais alunos por uma área de crescente importância estratégica para o país, aumentando a disponibilidade de especialistas na área florestal, de modo a dar resposta ao aumento da procura por parte do mercado de trabalho".
Os três cursos disponíveis atualmente em Portugal são Engenharia e Biotecnologia Florestal, que resulta de uma parceria entre a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e a Universidade do Porto; Engenharia Florestal e dos Recursos Naturais, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa; e Ciências Florestais e Recursos Naturais, na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra.
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60 mil empregos
Até ao final de 2030, a floresta portuguesa vai beneficiar de sete mil milhões de euros. O Governo estima que este investimento permita criar 60 mil postos de trabalho nesta área.
Volume de negócios
Em 2019, empregava cerca de 100 mil trabalhadores, ou seja, cerca de 2,3% do emprego nacional, distribuídos por mais de 19 mil empresas.