Já falei, nesta página, da iniciativa do Conselho Pontifício para a Cultura, presidido pelo cardeal Gianfranco Ravasi, na criação, por sugestão de Bento XVI, do "Átrio dos Gentios", espaço para diálogo entre crentes e ateus. O primeiro encontro decorreu, há dias, com a participação de mais de 1500 pessoas, na Universidade de Bolonha (Itália), onde o seu reitor, Ivano Dionigi, defendeu: "Acho que falar do homem é equivalente a falar de Deus; e falar de Deus equivale, sobretudo, a falar do homem".
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O cardeal Ravasi, ao falar de "Deus no ateísmo", citou o pensamento de Emil Cioran (1911-1995), escritor e filósofo romeno, que viveu muitos anos em Paris. Considerava-se, como disse o cardeal, da "raça dos ateus" e, no entanto, "vivia com o anseio do seguimento do mistério divino". Dizia-se ateu, mas sugeria aos teólogos um caminho "estético" particular para provar a existência de Deus, lembrando-lhes: "Quando ouvem Bach, vêem o nascimento de Deus... Depois de uma cantata ou uma Paixão, Deus deve existir... E pensar que tantos teólogos e filósofos desperdiçaram dias e noites à procura de provas da existência de Deus, esquecendo-se da única!".
Se a Igreja quer cumprir a sua missão evangelizadora, tem de apostar, com largueza de espírito, na prática do diálogo, que não seja apenas cosmética na linguagem, mas fidelidade ao projecto de salvação que Deus lhe confiou.
O próximo encontro do "Átrio dos Gentios" será em Paris, em 24 e 25 de Março próximo. É um desafio que deveria criar raízes em qualquer diocese ou país, onde crentes, ateus e agnósticos pudessem debater as razões da sua esperança.