Os enfartes do miocárdio e os acidentes vasculares cerebrais (AVC) estão a afetar pessoas cada vez mais jovens.
Corpo do artigo
O alerta da Sociedade Portuguesa de Cardiologia surge no Dia Mundial do Coração, quando é lançada uma campanha para alertar para um dos principais fatores de risco: o colesterol. As doenças cardiovasculares matam, todos os anos, quatro milhões na Europa, 31 mil em Portugal - onde o enfarte é a principal causa de morte.
"Ainda existe a noção de que o enfarte é uma doença de idosos. Mas as doenças cardiovasculares estão a aparecer em idades cada vez mais jovens, desde os 30 anos, fruto do estilo de vida, da má alimentação e da vida sedentária", explica Sílvia Monteiro, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.
José Luís Poças é exemplo disso. Aos 41 anos, o gerente bancário sofreu um enfarte agudo do miocárdio. "Acordei mal disposto, com suores frios, vómitos, diarreia", recorda. Tinha hipertensão arterial e colesterol alto e chegou ao hospital já com dores no peito. Mas, por ser tão jovem, o diagnóstico de enfarte não foi encarado. "O médico disse que a dor era uma distensão muscular e os vómitos e diarreia eram uma gastroenterite", conta.
Só quando fez um eletrocardiograma se confirmou que era um enfarte. Teve de ser transferido de Oliveira do Hospital, onde vive, para Coimbra. Chegou três horas depois do início dos sintomas, com insuficiência cardíaca aguda. Uma angioplastia, 11 dias de internamento e dois meses de baixa não chegaram. Teve de implantar, meio ano depois, um cardioversor desfibrilhador, uma espécie de pacemaker que previne a morte súbita cardíaca por arritmia.
Hoje, José Luís toma quase dez fármacos por dia. "A maior revolta é acontecer-nos. Nesse ano, tinha já feito 400 quilómetros de caminhada, não fumava e vivia sem exageros". Por isso é que Sílvia Monteiro alerta para o colesterol.
colesterol mais baixo
"Este mês foram publicadas linhas orientadoras pela Sociedade Europeia de Cardiologia que consideram que o colesterol mau deve ser inferior a 55mg/dl. Até então, o valor considerado era 70mg/dl. Temos de ser mais agressivos", sustenta. A preocupação é maior para doentes de alto risco, caso de quem sobreviveu a um enfarte, que pode ficar com função cardíaca reduzida.
"Um em cada cinco volta a ter um evento no primeiro ano. E 20% dos que sobrevivem no primeiro ano têm um novo evento nos três anos seguintes", refere. Atualmente, meio milhão de portugueses tem insuficiência cardíaca.
Pormenores
Quem afeta - Os doentes com maior risco são fumadores, diabéticos, com pressão arterial elevada, excesso de peso e colesterol alto.
O que se sente - Num enfarte, há dor no peito, que pode irradiar para braços, costas e pescoço, associada a suores, náuseas e vómitos. Ou desmaios e falta de ar súbita. Num AVC, há perda de força nos membros do mesmo lado, alterações da memória e fala.
O que fazer - Os doentes devem recorrer ao 112, não ir pelos próprios meios ao hospital. O atraso na abertura do vaso "entupido" causa mazelas que podem levar a insuficiência cardíaca, transplante ou alterações neurológicas.