Hospitais são acusados de estar a agendar cirurgias a mais. 56% das operações previstas em nove dias não foram realizadas.
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O advogado que representa o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) no processo de contestação à requisição civil dos enfermeiros denunciou que há hospitais que estão a agendar mais cirurgias do que em dias normais para forçar o incumprimento dos serviços mínimos e dar argumentos ao Governo para alargar a requisição a mais centros hospitalares. O Ministério da Saúde revelou que, nos primeiros nove dias da greve cirúrgica 2, não se realizaram 2657 (56%) das 4782 cirurgias previstas nos dez centros hospitalares [ler ao lado ].
A intimação, em contestação à requisição civil decretada na semana passada pelo Governo para quatro centros hospitalares, foi apresentada no Supremo Tribunal Administrativo às 15.55 horas, precisou ao JN Garcia Pereira. É expectável que amanhã haja uma decisão do juiz sobre a tramitação do processo, acrescentou. O advogado explicou que foi requerida ao juiz urgência na decisão "tendo presente a gravidade das situações que se estão a passar hoje". Garcia Pereira referia-se ao "alargamento dos programas cirúrgicos para níveis superiores aos dias normais para culpar os enfermeiros pelo incumprimento dos serviços mínimos". "Parece ser intenção do Governo decretar a requisição civil noutros hospitais", acusou.
Podem estar em causa crimes
"Estão a ligar às pessoas a dizer que vão ser operadas, quando as cirurgias não são possíveis", acusou. Garcia Pereira imputa responsabilidade ao Ministério da Saúde e às administrações hospitalares e entende que o Ministério Público deveria investigar, uma vez que podem estar em causa crimes de natureza pública, como abuso de poder e denegação de justiça.
Ao JN, o Ministério da Saúde admitiu que "caso se verifiquem mais situações de incumprimento, elas poderão motivar o alargamento da requisição civil".
Carlos Ramalho, do Sindepor, disse que a situação denunciada por Garcia Pereira "está a acontecer por todo o lado" e que está a ser registada pelo sindicato, mas não especificou os hospitais.
A requisição civil abrange os centros hospitalares do Porto, S. João, Entre o Douro e Vouga e Tondela-Viseu. A greve está a afetar também Gaia, Braga, Coimbra, Lisboa Norte, Garcia de Orta e Setúbal.
S. João mais afetado
Entre 31 de janeiro e 8 de fevereiro, estavam previstas 4782 cirurgias nos dez centros hospitalares com greve cirúrgica e não foram realizadas 2657, o que corresponde a 56%. Os centros hospitalares de S. João, com 67% de operações não realizadas, e o do Porto e o de Entre Douro e Vouga, com 62%, foram os mais afetados.
862 identificados
Pelo menos 862 dos 2317 apoiantes anónimos que contribuíram para o crowdfunding que está a financiar as greves cirúrgicas já se identificaram, revelou o "Jornal de Negócios". É a resposta a um apelo dos enfermeiros por trás desta angariação de fundos face às suspeitas levantadas em torno dos financiamentos anónimos da greve cirúrgica. As campanhas recolheram mais de 784 mil euros.