Ideia foi defendida por José Eduardo Martins, provedor dos destinatários dos serviços da Ordem dos Engenheiros, durante uma conferência destes profissionais realizada, ontem, em Bragança.
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O grande desafio da Engenharia para as regiões do Interior é “torná-las autónomas”, para que tenham “as mesmas coisas que existem nos grandes centros”, permitindo ser atrativas para que as pessoas não saiam de lá. A ideia foi deixada, ontem, em Bragança, por José Eduardo Martins, provedor dos destinatários dos serviços da Ordem dos Engenheiros.
O advogado foi um dos participantes na segunda das duas conferências “Trás-os-Montes na Rota da Engenharia” organizadas pelas delegações distritais de Vila Real e Bragança da Ordem dos Engenheiros. O objetivo foi discutir a relação entre a Engenharia do futuro e a região, num Mundo cada vez mais globalizado e tecnológico.
Apesar dos avanços verificados nas últimas décadas em várias vertentes, José Eduardo Martins lamentou que as pessoas não vivam melhor. Deu o exemplo de Lisboa, onde mora. “Vive-se lá cada vez pior. Os jovens não conseguem comprar uma casa. Demora-se uma hora de carro para qualquer lado. Os transportes públicos já não têm hipótese de salvar aquela cidade e na periferia vive-se ainda pior”. E isto, frisou, “não é uma má notícia para Trás-os-Montes”. Porquê? “Porque pode fazer com que as pessoas queiram manter-se ou ir para lá à procura de melhor qualidade de vida”.
“A Engenharia pode contribuir criando soluções”, vincou José Eduardo Martins, desde o setor da agricultura ao do turismo, passando pela estimulação da mobilidade elétrica. Para isso “tem de haver incentivos públicos”. Não tem dúvidas de que “se a Engenharia trouxer qualidade de vida, as pessoas vivem melhor no Interior”.
A Ordem dos Engenheiros também convidou para a conferência de Bragança a bióloga, professora e investigadora da Universidade de Coimbra, Helena Freitas. Foi dar alguns exemplos práticos de valorização das regiões com soluções baseadas na Natureza, nomeadamente através da descarbonização.
“Precisamos de ter zonas onde se possa sequestrar carbono, senão vai parar à atmosfera. Estamos a perder capacidade, nomeadamente devido aos incêndios rurais”, avisou a investigadora. Mas não só. Desafiou a Engenharia a criar um programa específico com o objetivo de “prevenir a perda de solo”, lembrando que “demora muitos anos a formar-se” e que “uma única colher de solo tem triliões de microrganismos”. Concluiu que “é preciso trazer a natureza para o centro da economia” e “ter a Engenharia neste processo é da maior importância”.
Marco Neiva, fundador da Rota Norte, realizador e produtor de filmes de promoção turística, admitiu que em vários trabalhos que já fez para promover o território “houve muita Engenharia envolvida”, mesmo que quem os vê não o perceba. A Rota Norte é uma rota de estrada com 777 quilómetros que atravessa 35 municípios do Minho, Trás-os-Montes, Douro e Porto. Começa no concelho de Bragança cujo autarca, Paulo Xavier, diz que quer ser “um ponto de atração de “Engenharia”.
Perspetiva
“Lei dos solos não vai dar em nada”
O presidente da Ordem dos Engenheiros da Região Norte, Bento Aires, criticou, ontem, a Lei dos Solos, que tem feito correr muita tinta e que, na sua opinião, “não vai dar em nada”. No encerramento da conferência “Trás-os-Montes na Rota da Engenharia”, realizada ontem em Bragança, Bento Aires realçou que “só se fala tanto da Lei dos Solos porque a política de planeamento neste país faliu”. Mais: “Se o Governo queria fazer alguma coisa, falava com os engenheiros e perguntava-lhes como é que se podia implementar no terreno. Caso contrário, até se pode fazer qualquer alguma coisa, mas não vai dar em nada”. Quanto a Trás-os-Montes, reforçou que a região precisa de ter “um sobressalto público”. Insistiu que “é preciso focar-se no que tem de melhor e no conhecimento que gera”. E finalizou: “Quando vem cá um ministro ou um secretário de Estado o gosto tem de ser de quem vem de fora e não de quem cá está”.