O coelho-bravo está em declínio em zonas de mato na Península Ibérica, apesar de ser mais visível e estar a causar mais danos em áreas agrícolas de Portugal e Espanha.
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Segundo o primeiro censo do coelho ibérico, do LIFE Iberconejo, as populações deste “engenheiro do ecossistema” diminuíram cerca de 18% nas zonas abrangidas por este programa - Andaluzia, Castela-Mancha, Extremadura e todo o território de Portugal. O mapa elaborado pelo LIFE Iberconejo mostra as “duas faces” do coelho-bravo: a densidade é alta principalmente em quatro grandes zonas espanholas associadas a meios agrícolas – as mesetas sul e norte, e os vales do Ebro e do Guadalquivir, onde “se concentra o conflito com a agricultura”, diz o levantamento feito pelo LIFE Iberconejo.
Segundo dados do projeto cofinanciado pela União Europeia que termina em junho de 2025, após três anos de trabalho, existem outros grandes espaços ibéricos onde o coelho escasseia, nomeadamente em zonas com predomínio do montado mediterrânico, como a Serra Morena ou as serras da Extremadura, em Espanha ou grande parte de Portugal, onde deveria estar a cumprir o seu papel ecológico como espécie presa e onde a sua caça gera benefícios socioeconómicos.
A análise, considerada um marco no estudo desta espécie, revela “diferenças notáveis” na situação do coelho-bravo em paisagens agrícolas ou de mato: as estatísticas cinegéticas mostram uma redução de 10,17% de coelhos capturados em zonas agrícolas no mesmo período, com uma tendência de aumento nos últimos anos, enquanto a espécie continua em queda livre em zonas de mato, com um declínio de 57,75%. “O que nos mostram estes resultados é que está em perigo o papel ecológico vital do coelho-bravo devido ao seu desaparecimento dos habitats mais naturais, e também a sua função social ligada a uma atividade cinegética sustentável”, explica o diretor do projeto LIFE Iberconejo, Ramón Pérez de Ayala.
“As alterações nos usos do solo, com o desaparecimento da paisagem tradicional em mosaico, e as doenças, são os fatores que têm sido associados ao declínio das populações do coelho-bravo”, argumenta o LIFE Iberconejo. “Por outro lado, vemos que existem muitos coelhos em zonas agrícolas menos favoráveis à biodiversidade. Zonas onde provocam importantíssimos danos à agricultura e, apesar do enorme esforço das sociedades de caça, em algumas ocasiões estas não conseguem controlar as suas populações no grau desejado”, acrescenta no mesmo comunicado.
“Elaborar um censo dos coelhos à escala peninsular, que implicaria a contagem de cada um dos exemplares da Península Ibérica, é logicamente impossível”, disse o investigador do IREC Javier Fernández López, que liderou o desenvolvimento do modelo matemático que “conhecer a distribuição e a abundância do coelhobravo a uma escala sem precedentes”, disse aquele responsável.
O modelo, que integra diversas fontes de dados: sobre a situação populacional em grande escala – as estatísticas cinegéticas de animais caçados – dados em escala regional e local – contagens de coelhos ou indícios da sua presença no terreno, respetivamente – e informações sobre as características do habitat, foi fundamental para elaborar este mapa pioneiro de distribuição da espécie, investigadores do Instituto de Investigación en Recursos Cinegéticos (IREC - CSIC, UCLM, JCCM), que colaboram no LIFE Iberconejo.
Este pequeno animal tem uma enorme relevância ecológica e socioeconómica: considerado um “engenheiro do ecossistema” pela sua capacidade de modelar o ambiente e por ser presa de mais de 40 espécies de mamíferos e aves no montado mediterrânico, é também a principal espécie de caça menor e o vertebrado silvestre que mais danos agrícolas provoca em Espanha.