O presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN) criticou, ontem, o modo como o Governo está a lidar com o problema da habitação em Portugal.
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Bento Aires pediu "rigor técnico" nas opções da tutela, para evitar que eventuais erros prejudiquem os portugueses, sobretudo os mais desfavorecidos. O Bastonário da Ordem, Fernando Santos, secundou os alertas, exigindo que o Governo oiça os engenheiros antes de decidir (ver textos ao lado), evitando o desenho de políticas em cima do joelho.
Coube a Guimarães receber a terceira sessão do périplo organazido pela OERN para discutir, em todos os distritos da região Norte, questões ligadas ao setor da engenharia. Na conferência sobre os "Novos Desafios da Habitação", o facto de a dificuldade de contratar engenheiros poder comprometer a capacidade do país para agarrar as oportunidades criadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), foi uma das principal conclusões do painel de debate.
muito em pouco tempo
Laura Caldeira, presidente do LNEC, Luís Martins, diretor de serviços e instalações do ISCTE, e José Carlos Lino, da Buildingsmart Portugal, numa conversa moderada pelo diretor executivo da Casais, António Carlos Rodrigues, evidenciaram o desafio de o país ter que fazer muito em pouco tempo. A digitalização dos processos e a industrialização da construção estão entre as soluções apontadas.
Depois de um momento em que "atingimos o ponto mais baixo da construção, em Portugal", segundo António Carlos Rodrigues, agora "há dinheiro e vontade política". Os problemas, de acordo com estes especialistas, são a falta de agilidade, que pode comprometer o cumprimento dos prazos, e a falta de engenheiros.
Luís Martins ilustrou o problema com um concurso para engenheiros eletrotécnicos que lançou, "por duas vezes e que em ambas ficou deserto". Para resolver o problema, os engenheiros apontam para a necessidade da digitalização dos processos e para a construção modular. É unânime a necessidade da introdução do BIM (Modelo da Informação da Construção), uma nova tecnologia que também é uma metodologia de trabalho em que toda a informação existente sobre o edifício ou infraestrutura, ao longo de todo o ciclo de vida, é congregada num único ficheiro. Nesta plataforma podem trabalhar de forma colaborativa diversos profissionais, desde a fase de projeto e licenciamento, passando pela manutenção, até à demolição.
Segundo José Carlos Lino, o BIM ainda não arrancou, "porque faltava vontade política" e lembra que no Reino Unido já é obrigatório, desde 2016. A industrialização da construção foi apontada, por este especialista, como outra das soluções para aumentar a rapidez. O presidente da Buildingsmart chamou à atenção para as limitações que legislação sobre a Contratação Pública coloca às empreitadas de conceção-construção, como outro entrave ao cumprimento de prazos.
Laura Caldeira reconheceu a dificuldade que a lei tem para acompanhar a transformação tecnológica e focou a inutilidade de colocar em decretos aspetos que devem constar em normas técnicas.
Regulamento tem mais de meio século
O regulamento base do setor da construção é o mesmo desde 1951. "Obsoleto e já ultrapassado por legislação superveniente", disse o responsável da OERNA400.
Prestadora de serviços técnicos em várias áreas ligadas à engenharia, a A400, uma das três empresas ontem visitadas pela OERN, tem vindo a crescer sustentadamente ao longo dos anos. Fundada em 1995 e com sede no Porto, a empresa tem 90 colaboradores em Portugal e no continente africano (filiais em Angola, Moçambique, Marrocos e Argélia).
DST
O Grupo DST, sedeado em Braga desde 1940, aposta sobretudo na engenharia e construção. Hoje um grupo de referência a nível nacional, tem alargado a atividade a áreas de negócio como o ambiente, energias renováveis e telecomunicações, entre outras. O grupo conta com mais de 2700 colaboradores.
Casais
Com negócios que vão da engenharia ao turismo, passando pelo imobiliário e ambiente, o Grupo Casais, sedeado em Braga, tem no profundo conhecimento dos mercados uma das suas estacas. A marca está presente na Alemanha, Angola, Moçambique, Bélgica, Espanha, Gibraltar, Holanda, Marrocos, Cabo Verde e Brasil.