A escola Onda Pura, de Matosinhos, tem um projeto social para ensinar o surf a crianças desfavorecidas e quer formar uma equipa para competições adaptadas daquela modalidade.
Corpo do artigo
Foi na praia de Leça da Palmeira, Matosinhos, que tudo mudou: Marcelo Martins, um surfista nascido no Porto, mas que cresceu em Lisboa e fundou, em Santa Cruz, Torres Vedras, uma das primeiras escolas de surf do país, criou a Onda Pura em 1994, quando a modalidade começava a popularizar-se em Portugal e não ficou indiferente aos meninos carenciados que lhe iam pedindo para experimentar as pranchas. Aventurou-se num projeto social, oferecendo batismos de surf.
No início do milénio, e já com a escola instalada em Matosinhos - Marcelo tinha-se mudado para o Porto, para tirar o curso de Desporto, e levara a Onda Pura consigo -, surgem as primeiras aulas de surf para crianças institucionalizadas. Eram os meninos da Obra do Frei Gil, do Porto, que costumavam fazer praia em Leça e ficavam fascinados ao ver outros miúdos a aprender a surfar. "Acontecia várias vezes eles dizerem-nos: "também queremos experimentar", ou "empurra-me numa onda". É impossível ficar indiferente a isto", recorda Marcelo Martins, que começou a ensinar aquelas crianças a apanhar ondas.
"Entretanto, o projeto foi-se alargando e fomos tendo mais contactos de outras instituições. Nos últimos 10 anos, temos atendido bastantes pedidos e, neste momento, há uma média de mais de 300 participações por ano, de meninos de cerca de 20 instituições", contabiliza o professor de surf, que destaca os "benefícios que [a experiência] pode proporcionar no crescimento das crianças".
Destinada a uma faixa etária entre os oito e os 14 anos, a iniciativa desenvolve-se em parceria com a Câmara de Matosinhos, que sinaliza as instituições, e também passou a integrar a programação do evento anual de surf Wave Series.
O mar tem a vantagem de não excluir ninguém: com uma prancha mais pequena ou maior, toda a gente consegue divertir-se
Paralelamente, a escola promove ainda aulas de surf adaptado, um projeto que nasceu em parceria com a APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental) do Porto e que foi entretanto alargado ao público em geral, envolvendo jovens com idades até aos 20 anos. Agora, revela Marcelo Martins, a ideia é "formar uma equipa para começar a competir, em breve, em provas de surf adaptado".
"O mar tem a vantagem de não excluir ninguém: com uma prancha mais pequena ou maior, toda a gente consegue divertir-se", garante Duarte Arbués, que é professor na Onda Pura há seis anos e vê como "gratificante" o trabalho desenvolvido junto destas crianças e jovens. "Eles dão muito mais valor a esta experiência e acabam por dedicar-se muito mais às aulas do que outras pessoas", observa