Nascido em Santo Tirso, projeto da agrofloresta da Manguela cria raízes e dá frutos: além da aplicação no terreno, espaço recebe formações.
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É ecologia em estado puro, mas pela mão do Homem: ancorada no princípio da agricultura regenerativa, que não satura o solo, a Estação Agroflorestal da Manguela, situada na Quinta da Manguela, em Santo Tirso, está a desenvolver uma agrofloresta de sucessão - ou sintrópica, a antítese da monocultura - e a partilhar o conhecimento com todos, através de formações e consultorias.
Os próximos cursos arrancam em março, divididos entre aqueles que se destinam a produtores domésticos, que pretendam fazer cultivos em casa, e os que são direcionados para agricultores. "Vamos ter cursos vocacionados para a agricultura familiar, para quem quiser iniciar uma transição ecológica, seja em contexto urbano ou rural", adianta Ricardo Meireles, proprietário da quinta e mentor do projeto, que desenvolve em parceria com o engenheiro agrónomo Walter Sandes, com quem fundou o coletivo "Somos agrofloresta".
No caso da produção caseira, o objetivo é "aproveitar para fazer agricultura regenerativa nas hortas, de forma a produzir comida e regenerar o solo, que é o que não acontece na maioria da agricultura familiar", explica Ricardo, fotojornalista que reabilitou a quinta da família, na zona da Carreira, para se dedicar ao cultivo e ao cuidado da terra. A outra vertente formativa consiste num "nível mais avançado de conhecimento, para agricultores ou para quem quer começar um investimento agrícola com práticas regenerativas, trabalhando com sistemas agroecológicos com foco num produto agrícola". Ao longo do ano serão abertos pelo menos cinco cursos.
"A agrofloresta de sucessão imita a dinâmica da Natureza, e permite criar ecossistemas muito diversos em pouco tempo. Usa a sucessão natural como motor para produzir alimento e regenerar o ecossistema", indica Ricardo Meireles, referindo que a coexistência de várias espécies permite que estas cooperem entre si, evitando que os recursos da terra se esgotem. "Conseguimos retirar comida do solo e fazer com que ele continue a melhorar", resume, sublinhando que "o sistema alimenta-se a ele próprio e produz comida". No fim, "o saldo energético do solo é positivo", já que a agricultura regenerativa se empenha em "não degenerar os solos".
A par destes cursos, que decorrem na Manguela, o grupo "Somos agrofloresta" promove também formações na Lipor, direcionadas para quadros técnicos das câmaras municipais.