Depois de um dia de calor tórrido, na vigília noturna, o Papa Francisco pediu ao milhão e meio de jovens presentes no Parque Tejo para não “julgarem os outros”, explicando que “o único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo é para a ajudar a levantar-se”.
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À pergunta do Papa "o que devem fazer quando caiem", os peregrinos responderam em coro: "levantarmo-nos". E o Santo Padre continuou o diálogo: "o importante não é cair, o importante é não ficar no chão e levantar-se".
O curto discurso, de improviso - que terminou com Francisco sorridente a despedir-se com um "obrigado e tchau" - fez acalmar o cansaço provocado pelo calor e pelas filas para arranjar água que os peregrinos tiveram que enfrentar durante a tarde. A grande maioria dos jovens começou de manhã a caminhar desde vários pontos da cidade de Lisboa e de municípios próximos, carregados com sacos-cama e mochila, prontos para passar a noite à beira Tejo. Ninguém imaginou que viesse tanta gente.
Perante a animação e festa que a "juventude do Papa" não se cansa de fazer, Francisco lembrou que "a alegria não é para estar guardada a sete chaves e, por isso, devemos dar aos outros as nossas raízes de alegria".
"Tornemo-nos dignos das nossas raízes, de quem nos deu vida, fé e amor. E pensemos também ser raízes de alegria para os outros"
Francisco pede aos jovens que sigam a sua vocação. "Não sei se alguém aqui gosta de futebol. Eu gosto. Por trás de um golo, o que há? Muito treino! Por trás de um êxito, o que há? Muito treino!", disse, apelando aos jovens que se esforcem a buscar a sua vocação.
Sempre de improviso e sorridente, o Papa afirmou que "não há nenhum curso que ensine a caminhar na vida. Isso aprende-se". "É preciso caminhar e treinar muito. Na vida aprende-se e treina-se um caminho. Treinar todos os dias. Nada é grátis, só há uma coisa grátis: o amor de Jesus. Sem medo, não tenham medo", afirmou perante os gritos de apoio dos jovens.
"A alegria não está fechada na biblioteca. A alegria é missionária. Não é só para mim, é para levar aos outros"
Dos testemunhos proferidos durante a cerimónia, o de Marta - uma peregrina de Cabo Delgado, em Moçambique - foi um dos que mais emocionou a multidão. "Fugi da guerra, fugi dos tiros", afirmou a jovem perante milhares de rapazes e raparigas da sua idade.
Jeong-Woong Cho, peregrino da Coreia da Sul, diz que a participação na JMJ foi o melhor que lhe aconteceu "nos 27 anos de vida"."Muito orgulho, muito orgulho", repete. E na Coreia de Sul, "todos os católicos amam o Papa", garante.
Até na ponte estiveram
Apesar do júbilo dos peregrinos, o dia não foi fácil. Os postos médicos existentes no Campo da Graça não tiveram mãos a medir e socorreram milhares de pessoas com crises de ansiedade, insolação e desmaios, embora não tenha havido "nenhum caso com gravidade".
Sem sombras, até os caixotes de lixo e as casas de banho portáteis serviram para os peregrinos se abrigarem do sol e das altas temperaturas. Guarda-chuvas e mantas transformadas em toldos acabaram por albergar grupos de peregrinos que jogavam às cartas, dormitavam ou conversavam enquanto esperavam pela frescura da noite e, sobretudo, pelo Papa em papamóvel.
Do lado de Loures - onde se concentravam os jovens que não se inscreveram na JMJ, mas que quiseram participar - as filas para entrar no recinto prolongaram-se por horas. A Ponte Vasco da Gama, encerrada ao trânsito, serviu de anfiteatro a uma pequena multidão que quis assistir à cerimónia festa da noite.
"Estou no Parque Tejo mas os meus pais e os meus avós estão lá em cima, na ponte, a ver e ouvir tudo", disse Sebastião Moreira, de Loures. O rapaz, catequista, não poupou elogios à coreografia de drones luminosos que marcou um dos momentos altos da vigília, desenhando no ar as palavras "levanta-te" e "segue-me" em várias línguas . "Foi um encontro transformador" , disse. Na cerimónia participou também a fadista Carminho