Mobilidade dos portugueses nos dias úteis continua a registar quase sempre valores superiores aos do período pré-pandemia, desde a semana do Natal.
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O anunciado (re)confinamento geral e o agravamento da situação epidemiológica não travaram as deslocações dos portugueses. De acordo com a consultora PSE, especializada em ciência de dados, o nível de confinamento no último fim de semana manteve-se em linha com o dos anteriores. Já o nível de mobilidade durante os dias úteis continua a registar quase sempre, desde a semana do Natal, valores superiores aos do período pré-pandemia. Ontem e anteontem, não foi exceção.
É um comportamento que se observa desde que, em novembro, foi imposto o recolher obrigatório aos fins de semana a partir das 13 horas nos concelhos de risco elevado de propagação da covid-19, afirma Nuno Santos, especialista em análise de dados da PSE. "Ao longo da pandemia, os efeitos na mobilidade notam-se quando as pessoas voluntariamente se retraem. A partir do momento em que se impuseram restrições, a mobilidade aumentou durante os dias úteis e, em determinados períodos, chegou mesmo a ultrapassar os valores registados antes da pandemia", explica.
Menos saídas no dia 1
Desta vez, por isso, não se assiste a um "movimento de antecipação do confinamento por parte de uma parte considerável da população", como aconteceu em março e no final de outubro do ano passado, antes do regresso do estado de emergência, afirma.
Aliás, nesta segunda-feira, o Índice de Mobilidade PSE - que reflete a população em circulação, as distâncias percorridas e os seus tempos de deslocação, em que 100 representa o valor da mobilidade média antes da crise sanitária - foi de 103%: "Foi um dia completamente, normal como será o de hoje [ontem]", frisa.
Na semana do Natal, as deslocações dispararam com o alívio das medidas restritivas. Entre 21 e 23 de dezembro, a mobilidade superou os valores registados no período anterior à pandemia. Tal como sucedeu, no passado dia 30, antes das restrições regressarem, e em todos os dias úteis da semana passada, com exceção de quinta-feira.
Ao fim de semana, o nível de confinamento não tem sofrido alterações, apesar de uma ligeira descida no de 26 e 27 de dezembro, após a quadra natalícia. Segundo os dados da PSE, apurados a partir de uma aplicação que recorre à tecnologia GPS e instalada nos smartphones de 3670 pessoas, foi no primeiro dia de 2021, em que também vigoraram as restrições à circulação, que os portugueses mais se confinaram: o índice de mobilidade foi só de 35%. "Esse é, por tradição, aquele dia em que as pessoas mais ficam em casa, acontece todos os anos", refere Nuno Santos.
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Menos do que 2019
A 24 de dezembro, a percentagem de deslocações foi de 28%, menos 3% do que a registada no mesmo dia de 2019 (31%), de acordo com os dados da consultora TSE.
5% acima da média
A consultora indica que, no dia 23, a mobilidade foi 5% superior à média antes do estado de emergência e esteve 6% abaixo da verificada em 2019.
Circulação não afeta
O epidemiologista Henrique Barros disse ontem, no Infarmed, que não existe uma "relação clara" entre o número de casos e a mobilidade. No entanto, esclareceu, isso não significa que a restrição à circulação "não tenha efeito".
Efeitos do Natal
Baltazar Nunes, do Instituto Ricardo Jorge, lembrou que a velocidade da transmissão do vírus aumentou com as deslocações no Natal: antes de 25 de dezembro , o R(t) estava em 0,98 e, agora, subiu para 1,22.
5 mil casos escaparam
Manuel Carmo Gomes afirmou que, na semana do Natal, houve menos testes positivos, mas a incidência subiu, e que cerca de 5000 casos "terão escapado" às testagens. É "uma das explicações" para a subida "muito anormal" após o Natal.