A crise energética e a crise dos cereais, agravadas pela guerra na Ucrânia, já estão a fazer subir os preços dos alimentos. O tema preocupa, até porque não se conhece a sua extensão e duração. Os nutricionistas admitem que pode ser uma boa oportunidade para os portugueses terem uma dieta mais equilibrada.
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Há alternativas saudáveis que podem ajudar a mitigar os efeitos desta escassez. E os nutricionistas admitem que esta pode ser uma boa oportunidade para os portugueses terem uma dieta mais equilibrada. E para se pensar na autossuficiência alimentar.
A maioria dos cereais importados por Portugal (cerca de 70%) são para as rações dos animais e o aumento dos preços daquela matéria-prima já está a refletir-se na fatura do talho. Num país onde o consumo per capita de carne está acima do recomendado, a solução para contornar a subida de preços pode ser comer menos.
"Objetivamente, a guerra vai forçar preços, poderá haver alguma escassez e teremos de substituir esses alimentos, mas acho que é uma oportunidade para se comer menos e melhor. Resta saber se a vamos aproveitar", refere, ao JN, Pedro Oliveira , regente da cadeira "Produção Primária dos Alimentos" do curso de Ciências da Nutrição da Nova Medical School.
Opções no mercado
Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, está "muito preocupada" com a subida dos preços e a eventual escassez de cereais "porque são a base da nossa alimentação e não devem deixar de ser" e alerta para "a necessidade do país pensar no futuro e na questão da autossuficiência alimentar". Ao mesmo tempo, concorda que há alternativas para mitigar o impacto da subida dos preços de alguns alimentos.
Por exemplo, mudar do óleo alimentar, cujo preço disparou logo nos primeiros dias de guerra, para o azeite "é uma boa opção" porque se trata de uma gordura mais saudável. Reduzir o consumo de carne, diz, também é importante porque "os portugueses consomem mais do que deviam alimentos de origem animal e menos do que deviam alimentos de origem vegetal".
Pedro Oliveira corrobora: "é uma oportunidade única para se consumirem mais frutas e hortícolas". Ainda que também aqui se esperem aumentos, em resultado da subida dos custos com transportes e energia.
A escassez de trigo, provocada pelo facto da Rússia e da Ucrânia serem dois grandes fornecedores mundiais, vai refletir-se no preço do pão. Neste caso, Alexandra Bento e Pedro Oliveira admitem que pode ser substituído pelo pão de centeio ou de milho. "Do ponto de vista nutricional, são cereais tão bons ou melhores", assinala o professor.
A crise dos fertilizantes também pode ser "uma oportunidade para racionalizar" o uso destes produtos na agricultura europeia, defende Pedro Oliveira. "Só 35% do azoto aplicado é aproveitado pelas plantas", exemplifica.
Curiosamente, a nova orgânica do Governo, anunciada na semana passada, dá destaque à Alimentação. O Ministério da Agricultura, liderado por Maria do Céu Antunes, passa a chamar-se Agricultura e Alimentação.