No centro da Serra da Estrela, Manteigas é o arquétipo do concelho rural e interior. Os pais e mães não acabaram a escolaridade mínima, em média, e a maioria recebe Ação Social Escolar. Mas a escola está entre as 50 melhores, no ranking do JN (47.º lugar). O projeto educativo, disse o diretor, Renato Alves, procura integrar a escola na vida do concelho. "Queremos que as famílias, que à partida têm baixas expectativas, valorizem a escola".
Corpo do artigo
Fora das quatro paredes, a escola envolve-se na vida da comunidade. Dentro, dá aos alunos o que a família, muitas vezes, não consegue dar, como acesso a tecnologia, a viagens ao estrangeiro (com o programa Erasmus+) ou métodos de ensino diferentes, como o STEAM (acrónimo para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). "Os professores estão a fazer formação", diz. Só dois terços do corpo docente é dos quadros, mas Manteigas tem mantido os mesmo contratados. "Há dez anos, 90% dos professores mudavam todos os anos".
Em Viana do Castelo, o agrupamento de Arga e Lima segue outra estratégia. Costuma estar no pódio dos Percursos Diretos de Sucesso e, este ano é a única pública no top 30 do ranking do JN. O bom resultado, diz o diretor José Costa Leme, deve-se à equipa e à informalidade com que trabalha.
"Temos espírito de grupo, é fácil sinalizar um problema, falar com professores no corredor e encontrar uma solução". Mesmo que isso cause problemas com a Inspeção-Geral de Educação. "Só quer saber de burocracia. Nós, ou preenchemos papéis, ou trabalhamos com os alunos".
No agrupamento, com 800 alunos e menos de cem professores, os projetos sucedem-se, informais: uma horta, galinhas, snooker ou pingue-pongue... E um trabalho "com ligação à vida real". Como o dos alunos que não sabiam fazer contas e foram com a professora fazer compras. Ou, conta José Costa Leme, fazer um bolo. "Têm que ler e interpretar a receita e fazer contas às quantidades e proporções".
a diversidade e o gueto
Se dúvidas houvesse sobre a importância da escola, sobretudo para os alunos de meios mais vulneráveis, desapareceram com a chegada da pandemia. Amélia Lopes, do Centro de Investigação e Intervenção Educativas do Porto, não tem dúvidas: "A covid mostrou que as tecnologias agravam a desigualdade e que a escola presencial é positiva para a promoção da igualdade".
A investigadora reconhece a dificuldade que a instituição escola tem em adaptar ao que hoje é dela esperado, até porque terá sempre que ser um esforço coletivo - o trabalho individual, só por si, não chega. Mas assegura que continua a ser "fundamental" para dar melhores perspetivas de vida aos estratos sociais baixo e médio. " A escola sempre permitiu mobilidade social, mas hoje muito mais".
Mesmo que acabe por reproduzir padrões sociais, como acontece nas escolas que, por norma, sentem mais dificuldades. "Muitas vezes, nem é um problema da escola, mas urbanismo, guetização". A diversidade, diz, será sempre positiva.